Clint Eastwood é impressionante. Completa 90 anos de idade em 31 de maio e tem produzido como nunca - não fica mais de um ano sem filmar. Desde 2014, tem se dedicado a contar histórias reais de heróis comuns: o atirador de elite de Sniper Americano, o piloto que pousou um avião com 150 passageiros no Rio Hudson de Sully, os três amigos que interromperam um ataque terrorista em 15h17: Trem Para Paris, e agora o jovem segurança que evitou uma tragédia no atentado de 1996 em Atlanta, no episódio narrado em O Caso Richard Jewell.
Podem criticar o cineasta pela recorrente patriotada e há quem o rejeite de antemão por seus notórios ideais republicanos. O que ninguém pode negar é seu talento como artesão de personagens singulares, esculpidos em filmes que primam pela sobriedade e elegância, sem abrir mão de uma boa dose de ironia. Em comum, os biografados tiveram de lidar tanto com a fama repentina quanto com a incompreensão. Em 27 de julho de 1996, durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, uma bomba explodiu no Centennial Olympic Park, a poucos metros da vila olímpica. A explosão matou 2 pessoas e feriu 112. O estrago seria maior se Richard Jewell não alertasse a polícia da presença de uma mochila desacompanhada.
Rapaz tímido, gorducho e grudado na mãe (Kathy Bates, indicada ao Globo de Ouro de melhor coadjuvante), Jewell era frustrado por ter sido rejeitado na Polícia, mas foi à forra ao ser erguido como herói nacional da noite para o dia. O sonho durou pouco e logo depois seu perfil de moço retraído e antissocial caiu como uma luva na imagem do “lobo solitário” que o FBI buscava. De salvador da pátria, Jewell tornou-se suspeito. O roteirista Billy Ray (Capitão Phillips) se baseia no artigo da Vanity Fair "American Nightmare – The Ballad of Richard Jewell", de Marie Brenner, para examinar o dramático e descabido processo de execução pública de um inocente.
Os métodos de coesão do FBI (na figura do agente vivido por Jon Hamm) para forçar uma confissão e a falta de ética da imprensa (representada pela oportunista jornalista interpretada por Olivia Wilde) ao declará-lo culpado têm seu contraponto no advogado (Sam Rockwell) que vê no caso não só uma afronta à justiça como a chance de colocar seu nome em evidência. Eastwood é ótimo diretor de atores e tira o melhor de sua trupe estrelada, principalmente do protagonista, o pouco conhecido Paul Walter Hauser (de Eu,Tonya). Seu Richard Jewell é um herói genuíno, sim, mas com desvios de caráter que não o tornam um personagem necessariamente agradável. É justamente a habilidade de Eastwood em lapidá-lo como ser humano imperfeito, cheio de camadas e nuances, que torna sua via crucis uma experiência cinematográfica tão envolvente.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: O Caso Richard Jewell/Richard Jewell
Direção: Clint Eastwood
Duração: 131 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2019
Elenco: Paul Walter Hauser, Kathy Bates, Sam Rockwell, Jon Hamm, Olivia Wilde
Distribuição: Warner