Produzido pela BBC para a Apple+, o documentário do experiente Tom Beard, que não poderia ser narrado por outro senão David Attenborough (Planeta Azul), é um dos primeiros e preciosos registros dos efeitos da pandemia e do isolamento na natureza. Realizado por equipes remotas em vários países dos cinco continentes, coordenadas por Beard, e montado em tempo recorde, O Ano em que a Terra Mudou traz imagens inéditas, impressionantes e até comoventes do reencontro da natureza e do mundo animal consigo mesmo e, espera-se, com a humanidade.
Enquanto a população está reclusa em todo o globo, como mostram as sequências de capitais e grandes cidades desertas, silenciosas, portas inimagináveis são abertas para o mundo natural se refazer e florescer. Na voz marcante e pungente de Attenborough, o registro grave de seu alerta autobiográfico em David Attenborough e Nosso Planeta torna-se mais otimista, maravilhado até. “É uma oportunidade única de pesquisar a vida e o mundo selvagem e ver o que acontece sem a nossa interação”, diz uma das entrevistadas, pesquisadora de baleias.
O ar está mais limpo. Em Los Angeles, em apenas alguns dias a qualidade do ar registrada foi a mais alta em 40 anos. Na Índia, as águas do Ganges ficaram 80% mais limpas. Na China, a emissão de gases tóxicos no ar diminuiu em 50%. Em São Francisco, os pardais de coroa branca, abrigados sob a famosa ponte Golden Gate, cantam novas notas no seu ritual de acasalamento. No sudeste do Alasca, a ausência dos iates de turismo permite às baleias se comunicarem com seus filhotes e resgatarem o ritual coletivo da espécie em busca de alimento para sua prole. No Quênia, as expedições de turistas devolveram à mãe guepardo, após a caça, o alcance de seu trinado para chamar os filhotes, à salvo, para comerem.
Na praia de Juno, na França, as tartarugas-cabeçudas, cada vez em menor quantidade no mar, multiplicaram a desova nas praias vazias. Na Cidade do Cabo, na África do Sul, os pinguins-pai deixam seus filhotes nas ruas desertas e vão ao mar em busca de alimento duas, até três vezes na luz do dia, algo que só podiam fazer à noite, acelerando o crescimento e a saúde dos bebês. No Japão, na Argentina, na África sem safaris, cervos, capivaras e até leopardos passeiam pelas ruas vazias e quintais das residências e cidades.
Na Índia, uma comunidade inteira reverteu a ameaça centenária dos elefantes na região, que prejudicava suas plantações de arroz. Com a volta dos moradores que estavam fora a trabalho nas cidades, a população decidiu plantar numa grande área, o campo dos elefantes. Meses após o isolamento, o confronto milenar da região entre homem e elefante estava solucionado.
Em Jalandhar, ainda na Índia, cidade de 1 milhão de habitantes, apenas 12 dias após o isolamento, as pessoas começaram a gritar dos telhados: “A montanha, a montanha”. Sem a poluição, o Himalaia, situado há 200 quilômetros de distância, pôde ser visto a olho nu pela primeira vez em 30 anos. São apenas 43 minutos de inspiração e esperança para o planeta, uma lição inestimável de um futuro possível. Que a humanidade não precise mais se ausentar e perder o ar para deixar a natureza respirar. Nunca mais.
Trailer
Ficha Técnica
Título: O Ano em que a Terra Mudou/
Direção: Tom Beard
Duração: 48 minutos
País de Produção/Ano: Reino Unido, 2021
Elenco: David Attenborough, (narrador), Bhashkar Bara, Dulu Bora
Distribuição: AppleTV+
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