O Último Lance

É raro o cinema finlandês chegar por aqui, então aproveite. O Último Lance é uma produção singela, que vem na esteira de diversos filmes recentes sobre os bastidores do mundo da arte – entre eles The Square: A Arte da Discórdia, Minha Obra-Prima e o estranhíssimo Velvet Buzzsaw (no catálogo da Netflix). A loja do negociante de arte de Olavi não tem nada do glamour e da modernidade das galerias e museus dos títulos citados.

O senhor de 72 anos passa o dia rodeado por quadros antigos e convive basicamente com gente desse mercado em Helsinque. Sua rotina é ir a leilões, dar lances e arrematar obras por bons preços, para lucrar na revenda. A vida toda foi assim e Olavi é tão absorto nesse universo que a família nunca lhe interessou. Isso fica claro na relação fria e distante com a filha, Lea, que não esconde o rancor, mas engole o orgulho e pede ao pai que aceite o neto Otto para um estágio obrigatório da escola.

O adolescente é arredio e chega em má hora, porque Olavi está obcecado por um retrato que viu no último leilão e suspeita que a obra, sem assinatura, seja muito mais valiosa do que o leiloeiro calcula. Essa pintura pode significar uma aposentadoria tranquila para o protagonista, e a obstinada investigação da origem do quadro serve como um gatilho de colaboração entre avô e neto.

De um lado, Olavi mergulha em livros e documentos, uma papelada só. Do outro, Otto explora a internet e as mil e uma habilidades do mundo digital. A aproximação das duas gerações banha de humanidade essa história que começa calcada no preço de um objeto, e aos poucos abraça questões muito mais valiosas, como a amizade e os laços familiares.  

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