Ninguém Quer

Há 20 anos, Adam Brody arrancou suspiros, ganhou uma legião de fãs, fama e dinheiro como um dos protagonistas da série The O.C., disponível na plataforma Max. Em quatro temporadas, o drama juvenil acompanhou um grupo de jovens abastados de Newport Beach, na costa da Califórnia. Discreto na vida privada e sem grandes sucessos, de lá para cá ele marcou presença como coadjuvante em filmes como Bela Vingança (2020) e na série A Nova Vida de Toby (2022). Aos 44 anos, Brody volta aos holofotes na série de comédia romântica sensação do momento, Ninguém Quer, que segue no Top 5 da Netflix e acaba de confirmar a segunda temporada.

Nobody Wants This (no original) reúne Brody e Kristen Bell, que também ascendeu em Hollywood na mesma época, como a protagonista da série Veronica Mars, da Prime Video. A química da dupla tem sido um ímã para o público. Por trás do sucesso está a criadora e showrunner Erin Foster, que se inspirou na própria história de amor. Kristen interpreta Joanne, que compartilha sua vida de solteira em um podcast sobre sexo feito em parceria com a irmã, Morgan (Justine Lupe). Em uma festa ela conhece Noah, o rabino interpretado por Brody, que acaba de terminar um longo namoro. Em uma Los Angeles longe do burburinho de Beverly Hills, eles se arriscam em uma relação que já nasce complicada.

Noah tem a vida desenhada pelos pais, judeus conservadores que sonham vê-lo como o rabino chefe da comunidade. Uma shiksa (termo pejorativo para designar mulheres não-judias) sem papas na língua não pode ficar no caminho. Do lado de Joanne, quem sabota o romance é a irmã, enciumada e ameaçada de perder seu podcast. Como em todo bom exemplar do gênero, coadjuvantes ajudam a roda girar. E aqui há tipos únicos, como Sasha (Timothy Simons), o irmão de Noah, sujeito boa praça que dá sempre um jeitinho de escapar da rigidez da mãe e da esposa. Outra que rouba cena é Lynn (Stephanie Faracy), mãe da protagonista, um espírito leve que continua inseparável do ex-marido que se assumiu gay.

São eles os grandes responsáveis pelo riso nos dez episódios, cada um com cerca de 30 minutos. O maior trunfo dessa turma de apoio é que não há estereótipos e caricaturas. A mãe judia se revela capaz de enxergar as qualidades de Joanne, o que não significa aceitá-la como sua nora. Já Morgan faz fofocas que podem afastar os pombinhos, mas é a primeira a ajudar a irmã nas horas mais difíceis. Sobra autenticidade em toda a previsibilidade de Ninguém Quer.

O humor entre Joanne e Noah é mais sutil e banhado por uma certa melancolia de quem sabe que não faltam obstáculos pela frente. A religião em primeiro lugar, porque ela é agnóstica e pare ele ascender como rabino é obrigatório se casar com uma judia, ou no mínimo uma convertida. Mas o que, afinal, faz a diferença nesse casal? A maturidade. Sem o ímpeto impensado típico da juventude, eles se mostram capazes de enxergar e lidar com as próprias imperfeições. Mais do que isso, na verdade. Uma empatia em mão dupla freia o individualismo das relações líquidas. O amor de Joanne e Noah é sólido, na alegria e na tristeza. 

Ficha Técnica

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