Mussum, o filmis foi o grande vencedor do Festival de Gramado 2023. Dirigido por Silvio Guindane, recebeu seis Kikitos, entre eles os de melhor filme e melhor ator, para Ailton Graça. Chega agora aos cinemas na esteira de Meu Nome é Gal, que também se assume como cinebiografia homenagem. Quem viveu as décadas de 1970 e 1980 lembra bem. A família brasileira tinha encontro marcado todo domingo, antes do Fantástico, com o quarteto irreverente de Os Trapalhões. Era uma injeção de humor antes da segundona.
Didi, Dedé, Zacarias e Mussum entraram para a história da TV e do cinema brasileiro. Renato Aragão continuou sob os holofotes, Dedé Santana gozou da fama por um tempo, Zacarias e Mussum morreram cedo, em 1990 e 1994, e ficaram na memória dos fãs. O que pouca gente sabe, porém, é que antes de se eternizar como comediante, o carioca Antônio Carlos Bernardes Gomes foi um grande sambista.
É essa jornada pregressa que Guindane imprime na tela, apoiado por um elenco talentoso e consciente da representatividade da produção. “Dentro do racismo estrutural criado no Brasil, com o lugar estereotipado de subalternos para a raça preta, o filme é como um manifesto”, afirma Ailton Graça em conversa com OQVER (veja o vídeo a seguir). “Queremos atrair a comunidade preta para ver um de seus heróis, alguém que veio da periferia e deixou um legado de sucesso”.
O roteiro escrito por Paulo Cursino (De Pernas para o Ar) segue o modelo tradicional. Cobre desde a infância pobre, com Carlinhos vivido por Thawan Lucas Bandeira, a juventude na aeronáutica e a formação do grupo Originais do Samba, na interpretação vencedora do Kikito de coadjuvante de Yuri Marçal, até a fase dos Trapalhões, já no corpanzil de Ailton Graça. A fama de beberrão e mulherengo é atenuada por um enredo cujo alicerce é a relação com a mãe, Dona Malvina.
Vencedora do Kikito de atriz coadjuvante pela fase madura da personagem, a veterana Neusa Borges revela ao OQVER que não se preparou para o papel. “Veio do que eu vi a Cacau (Protásio) fazer, eu não podia fugir da maneira como ela me entregou a Malvina”, explica. Com mais tempo em cena, Cacau brilha como a mãe solteira e batalhadora que fincou na mente do filho o bordão “Burro preto tem um monte, mas preto burro não dá!”. Acreditava que só a educação lhe daria a possibilidade de escolha que ela não teve.
Além da mãe, outra figura feminina marcante no filme é Neila, a segunda esposa, que se manteve ao lado de Mussum até sua morte, mesmo diante de casos notórios de infidelidade e filhos fora do casamento – são quatro, o último comprovado em 2019. “Ouvi a voz da Neila em um depoimento que achei na internet, e ali senti a força da suavidade que ele precisava para seguir adiante”, conta sua intérprete, Cinnara Leal. “Pare ele, essa generosidade significava ‘estou aqui, vai ser a estrela que você é’.”
Mussum, o filmis traz grandes figuras da cultura brasileira para dividir a tela com o protagonista. Entre elas, Grande Otelo (Nando Cunha), Alcione (Clarice Paixão), Jorge Ben Jor (Ícaro Silva) e Chico Anysio (Vanderlei Bernardino). É uma grande, justa, mas adocicada honraria, cujos excessos melodramáticos são compensados por um elenco notável e pleno na missão de poupar Mussum das polêmicas. “A gente não queria focar em questões já exploradas, de forma repetitiva e até exagerada”, afirma Yuri Marçal. “Queremos iluminar o Mussum pai, filho, marido, irmão e sambista.” Junto com o filme, chega também Mussum, o podcastis, primeira produção em áudio feita em parceria entre g1 e Globo Filmes, que em cinco capítulos aprofunda o universo retratado na cinebiografia.
Trailer
Ficha Técnica
Título: Mussum, o filmis
Direção: Silvio Guindane
Duração: 116 minutos
País de Produção/Ano: Brasil, 2023
Elenco: Ailton Graça, Thawan Lucas Bandeira, Yuri Marçal, Cacau Protásio, Neusa Borges, Cinnara Leal
Distribuição: Downtown Filmes
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