Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta

Exemplar do subgênero filme de escola tão popular em Hollywood, Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta tem mais valor pelo seu espírito, digamos, do que pela sua realização. A adaptação do livro homônimo de Jennifer Mathieu ganhou a direção esperta e bem-intencionada de Amy Poehler (Entre Vinho e Vinagre), que também interpreta Lisa, a mãe e inspiração da protagonista, Vivian (Hadley Robinson, a série Utopia). Com sua experiência cômica de anos no programa Saturday Night Live e na série Parks & Recreation, Amy é responsável pelo bom humor do filme.

Vivian tem 16 anos e é uma das alunas mais bem-comportadas e discretas da Rockport High School. Pode-se dizer o mesmo de sua melhor amiga Claudia (Lauren Tsai, série Legião), mais ligada nas fofocas da escola do que Vivian. O ambiente colegial é tóxico e típico do gênero. O líder do time de futebol americano, Mitchell (Patrick Schwarzenegger, Sol da Meia-Noite), e seus amigos gozam de tratamento preferencial dentro e fora das salas de aula. São endossados até pela conservadora diretora Shelly (Marcia Gay Harden, Pollock), ainda que façam gozação e bullying com os colegas, especialmente as garotas. Eles inclusive soltam uma lista anual com a campeã de categorias como pegação, traseiro mais bonito e por aí vai.

Já acostumada a esse ambiente, Vivian começa a se rebelar com o anúncio da nova lista, mas sobretudo quando a novata de sua classe, Lucy (Alycia Pascual-Pena, série Saved by the Bell), começa a ser hostilizada ostensivamente por Mitchell. Inspirada nos recortes e nas fanzines da mala de lembranças de sua mãe, ativista punk feminista na juventude, Vivian cria artesanal e anonimamente a zine Moxie, distribui nos banheiros femininos, e acaba dando voz à insatisfação geral das garotas da sua turma e da escola. Elas formam um grupo combativo, enfrentamentos ficam mais constantes, e a zine continua a circular até que uma denúncia anônima de estupro cai nas mãos de Vivian.

É desse espírito combativo, da sororidade juvenil que invoca o movimento punk feminista das Riot Grrrl e Pussy Riot nos Estados Unidos dos anos 1990, impresso inclusive na trilha sonora com a clássica “Rebel Girl” da banda Bikini Kill, que Amy Poehler tira o frescor de seu filme. Como de hábito nas produções juvenis da Netflix, há o compromisso com a inclusão, aqui de latinas, pretas, asiáticas, homossexuais e cadeirantes, todas mulheres. No meio disso tudo, Vivian ainda se apaixona pelo irresistível skatista Seth (Nico Hiraga, Fora de Série), porque romance é bom e obrigatório no cardápio adolescente.

Entretanto, a diretora talvez tenha sido ambiciosa demais na variedade de temas e personagens, e o tratamento leve, apesar do drama, abarca circunstâncias realmente dignas de leveza, mas outras tantas mais sérias, que acabam se banalizando no contexto geral. Talvez o maior acerto seja a caracterização de Vivian, a adolescente que se descobre ao mesmo tempo que descobre o mundo ao seu redor, se enraivece consigo própria e com ele, desconta suas frustrações em todos, até encontrar e soltar no mundo a sua própria voz.

Ficha Técnica

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