domingo, 01 de junho de 2025
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Mostra SP: Coronation


Mostra SP: Coronation
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Mostra SP 2023

“Para a geração que viveu esta pandemia, sua sombra ficará em nossos corações para sempre”, diz uma das entrevistadas do documentário Coronation, exibido na seção Apresentação Especial da Mostra SP 2020, depois de ser recusado pelos festivais de Veneza, Toronto e Nova York, e pelas gigantes do streaming Netflix e Amazon.

Coronation é, em todos os aspectos, extraordinariamente especial. A começar pelas circunstâncias de sua realização. O artista ativista chinês Ai Weiwei (Human Flow - Não Existe Lar se Não Há para Onde Ir) produziu e dirigiu o documentário remotamente da Europa, com 500 horas de filmagens feitas por cidadãos comuns, de 23 de janeiro a 8 de abril de 2020 em Wuhan, China, sem abrir mão de seu estilo, dos longos planos-sequência, da qualidade imagética e narrativa.

Mostra SP: Coronation

É impressionante como Weiwei conseguiu se agilizar e se infiltrar para registrar de maneira tão genuína e diversa o lockdown de Wuhan do primeiro ao último dia, período ainda obscuro na história da pandemia mundial da Covid-19. É um documento único, do ponto de vista do Estado e dos cidadãos, de como a cidade viveu o que pode ter sido a origem da pandemia, embora o diretor privilegie, fiel à sua militância, a experiência humana dos fatos.

Estão no foco de Weiwei os esforços brutalmente eficientes e militarizados do governo, os gigantescos e superequipados hospitais de campanha erguidos em dias, a chegada de 40 mil médicos e enfermeiros vindos de todo o país, mas principalmente o impacto da operação e do primeiro contato com o vírus nos moradores, nos seus “personagens”. Abre com um casal tentando voltar para Wuhan após a decretação do lockdown, sob o controle ostensivo das estradas pela polícia. Depois vem a longa caminhada e os cuidados de proteção de um médico num dia de trabalho, em meio à cidade vazia, à entrega de refeições aos isolados, à rigorosa coleta de lixo, sob a responsabilidade da administração local.

Mostra SP: Coronation

Na segunda metade do filme, a perplexidade está nas vozes de mãe e filho num conflito de geração acentuado pela dura realidade. Mas a dor, dilacerante, está no relato do operário convocado às pressas para a construção dos hospitais que, abandonado pela burocracia estatal, não consegue voltar para casa. E do filho que, pela mesma razão, não consegue retirar as cinzas do pai para lhe dar um enterro digno depois de uma morte solitária. A contundência desse desfecho é impactante.

O documentário termina com cenas de pessoas queimando papel-moeda na rua para ofertar aos mortos, um ritual tradicional dos chineses nas cerimônias de despedida. Informa, nos créditos finais, que o primeiro caso de infecção foi confirmado em Wuhan no dia 1º de dezembro de 2019, as medidas de contenção tomadas sete semanas depois, e o coronavírus gerou uma pandemia global. Lá e cá, fantasmas há. Mas, e agora? O diretor afirma no material de apresentação de Coronation: “Apesar da impressionante escala e velocidade do lockdown em Wuhan, nós estamos frente a uma questão mais existencial: a civilização pode sobreviver sem humanidade? As nações podem contar umas com as outras sem transparência ou confiança?”.




Trailer

Ficha Técnica

Título: Coronation
Direção: Ai Weiwei
Duração: 115 minutos

País de Produção/Ano: China, 2020
Elenco: Vários
Distribuição: Mostra SP

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Mostra SP 2023

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Fátima Gigliotti

Fátima Gigliotti

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Cinéfila incorrigível, jornalista, editora, professora (não muito), crítica (chatinha) de cinema e audiovisual. Trabalhou no jornal A Folha de São Paulo, na coleção Cinemateca Veja, nas revistas TVA, Ver Vídeo, Set, Querida e Preview.