Mostra SP 22: A Noiva

Nessa semana a França repatriou 15 mulheres francesas e 40 crianças – entre elas 7 órfãs – que estavam detidas em campos de prisioneiros jihadistas no nordeste da Síria. Três das mulheres serão processadas por “associação terrorista” e todas as crianças serão entregues aos serviços de assistência social. A notícia do jornal O Estado de S. Paulo parece saída do filme A Noiva, uma das atrações da Mostra SP. Neste domingo, 23, terá exibição na Reserva Cultural, às 16h15, com a presença do diretor, o português Sérgio Tréfaut. Será a première brasileira, depois da estreia na seção Horizontes do Festival de Veneza.

Ele esteve no Iraque pela primeira vez em 2012, pouco depois da saída das tropas americanas. Queria fazer um documentário para mostrar que era “pura hipocrisia a teoria americana de que eleições e mídia livre trariam paz ao país”. O projeto foi abortado quando o Estado Islâmico tomou o poder e ocupou Mossul. Impressionado com o número de europeus que se uniu ao Daesch, Tréfaut escreveu a ficcional história de Bárbara (a estreante Joana Bernando), a noiva jihad. Agora sob o nome de Umm, mãe de duas crianças e grávida, ela é retirada do campo para assistir à execução do marido francês, condenado por terrorismo. A lágrima que cai de seus olhos azuis ao som dos tiros é a única coisa que se vê do corpo coberto pela burca negra.

De sua vida pregressa sabemos por ela mesma, que conta a um interrogador que tem descendência portuguesa, mas cresceu na França. Seu rosto de menina assusta quando é obrigada é retirar o véu. Da mãe que vem buscar o corpo do filho ela ouve “Sabes que sou contra tudo o que meu filho fez”, e “Eu nunca entendi por que ele se envolveu com tudo isso”. A resposta de Bárbara: “Ele fez suas escolhas”. Com sua lente documental e naturalista, Tréfaut observa o dia a dia da protagonista junto a outras mulheres e crianças no campo de prisioneiros. Não tem pretensão de obter respostas. Parece ciente de que não há explicação para o absurdo.

Bárbara recebe a visita inesperada do pai português (Hugo Bentes, Raiva). Ele veio avisá-la de que será julgada no dia seguinte por ligação com terrorismo e que pode receber a pena capital. A serenidade com que Bárbara encara a possibilidade de morte é de uma maturidade brutal. Tréfaut calibra a emoção no realismo. A gravidade da situação fala por si. Mas é impossível não lamentar pela jovem que se ilumina quando, por três vezes, burla as leis islâmicas. Ela experimenta uma calça jeans, passa a maquiagem de outra prisioneira e ouve Amy Winehouse no ipod que o pai lhe deu de presente. É doído ver esses instantes de normalidade se dissiparem.  

Clique no botão da 46ª Mostra para comprar ingressos.

Ficha Técnica

Garanta seu Ingresso!