Imperdoável

Sandra Bullock está de volta à Netflix depois do suspense de ficção científica Bird Box (2018), agora com uma história mais pé no chão. Sua personagem em Imperdóável é Ruth Slater, que sai em liberdade condicional 20 anos após a condenação por matar um policial. Ela sabe que não pode dar um passo em falso, o que significa trabalhar e não remexer no passado. Esse segundo item envolve a irmã, Katherine (Aisling Franciosi), que tinha 5 anos quando Ruth reagiu à execução da ordem de despejo da casa dos pais, já mortos. Seu desejo é, ao menos, saber se Katie está feliz com a família adotiva e se recebeu as cartas que lhe enviou por duas décadas.

Imperdoável é a adaptação de uma minissérie britânica de 2009, escrita por Sally Wainwright. A versão da Netflix é dirigida pela alemã Nora Fingscheidt, que está em alta depois dos prêmios em Berlim por Transtorno Explosivo. A cineasta tinha aqui a oportunidade de examinar as dificuldades do processo de reintegração de condenados na sociedade. É um tema sempre urgente e Ruth ainda carrega o amaldiçoado rótulo de “cop killer” (matador de policiais). A questão é que o enredo se distrai em conflitos que correm em paralelo, e com uma quantidade excessiva de coadjuvantes. Sandra Bullock transita por todos os núcleos com o carisma de sempre, mas sua face plastificada parece travada em uma mesma expressão de tristeza. Esquisito.

No trabalho em uma peixaria, Ruth faz amizade com o colega interpretado por Jon Bernthal (King Richard: Criando Campeãs) e experimenta um pouco de normalidade. Em visita à antiga casa, entra em contato com os novos moradores, a família dos personagens de Viola Davis (subaproveitada) e Vincent D’Onofrio. Por uma forçada coincidência, ele se torna o advogado que vai ajudá-la a encontrar Katie. Agora uma promissora pianista, a jovem vive com os pais e a irmã, mas tem constantes flashes de memória do traumático momento do crime. Como se não bastasse, o enredo envereda do drama para o suspense criminal com o plano de vingança dos dois filhos do policial morto.

A minissérie original tem 3 episódios e a sensação é que os fatos foram picotados e espremidos para caber nas duas horas do longa. Se o início é em marcha lenta, o segundo ato engrena com ações efetivas e tensão crescente. Na melhor cena, um confronto verbal entre Ruth e a personagem de Viola Davis, há uma revelação que muda a perspectiva do assassinato. Falta a Imperdóavel, porém, um clímax que amarre todas as tramas com emoção genuína. Sem Sandra Bullock e o estelar elenco de apoio, é bem capaz que a produção da Netflix ficasse perdida no catálogo como um drama policial genérico.

Ficha Técnica

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