Hala

A adolescente Hala (Geraldine Viswanathan, Má Educação) pertence à primeira geração de uma família de paquistaneses muçulmanos nascida nos Estados Unidos. Em Chicago, ela está no último ano de uma escola de elite, na qual se destaca como uma das melhores alunas, especialmente em literatura e língua inglesas. Hala não tira o hijab (lenço de cabeça) nem para  fazer manobras na pista de skate. Filha única, é mimada pelo pai advogado e severamente cobrada e vigiada pela desconfiada mãe, dona de casa. Ali seus pais falam a língua materna, mas ela responde em inglês.

A história de Hala ecoa a da diretora e roteirista Minhal Baig (série Ramy), também de Chicago. Sucesso no Festival de Sundance 2019, o filme entrou na primeira safra de longas adquiridos pela Apple+, e Minhal ainda assinou contrato de produção com a Amazon. Não é de admirar. A cineasta narra o multifacetado rito de passagem de sua protagonista com lirismo e uma sensibilidade à flor da pele, que transborda naturalmente da história sem artifícios narrativos.

É no roteiro belíssimo e na performance contida da jovem australiana Geraldine Viswanathan, à frente de um ótimo elenco, que a diretora revela a combustão interior de Hala na busca da sua identidade, e no conflito entre a cultura e religião herdadas e sua própria maneira de vivê-las. A cineasta a observa também na descoberta da sexualidade e no desafio às fronteiras do amor, seja do namorado Jesse (Jack Kilmer, Verão 2003), dos pais ou do professor de literatura. Hala desabrocha e fortalece sua voz interior enquanto o mundo ao seu redor acumula fraturas e desaba sob seu olhar confuso e incrédulo. Nesse sentido, sua história ganha um apelo universal, e esse é apenas um de seus muitos acertos.

Hala escreve em uma redação que lê na classe: “O que ela mais temia não eram as palavras. Ela não conseguia lidar era com os espaços entre as palavras, o silêncio”. Nesses espaços vazios preenchidos com silêncio e possibilidades, Minhal Baig solidifica a subjetividade e a ternura de Hala, e dá à personagem e ao filme algo de poético. Na produção, contou com o talento de uma equipe majoritariamente feminina, da diretora de fotografia brasileira Carolina Costa (Babenco: Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer Parou) à produtora executiva, a atriz Jada Pinkett Smith (a trilogia Matrix).

Ficha Técnica

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