Gente Ansiosa

Boa surpresa entre as atrações escandinavas do catálogo da Netflix. Gente Ansiosa vem da Suécia e é minissérie, com apenas 6 episódios de cerca 30 minutos. Maratona fácil! O enredo agrega humor nonsense ao drama, e surpreende com um quebra-cabeça policial engendrado minuciosamente. Começa tenso. Um garoto de seus 13 anos tenta salvar um suicida, mas o sujeito lhe entrega um envelope azul antes de pular de uma ponte. A trama salta para o futuro e o menino agora é o policial Jack (Alfred Svensson), que interrompe o corte de cabelo para perseguir um ladrão de banco. O mascarado se refugia em um apartamento à venda em dia de Open House, e os oito visitantes tornam-se reféns.

Serão eles os investigados, porque ao fim do sequestro Jack invade o lugar junto com seu parceiro e pai, Jim (Dan Ekborg), e não acha rastro do criminoso. Na trama digna de Agatha Christie, no melhor estilo whodunit, cada um dos envolvidos dá a sua versão do que aconteceu naquela véspera de Ano Novo. O primeiro episódio aposta no riso involuntário, com Jack em ação enquanto a cabeleireira segue-o com a tesoura para finalizar o corte. Dentro do apartamento, conhecemos um casal de meia-idade que compra imóveis para revenda, a gerente do banco assaltado, uma idosa, uma grávida e sua esposa, um sujeito vestido de coelho e a corretora. Na medida em que as histórias pessoais ganham a tela, o enredo encaixa as peças para desvendar não só a identidade do assaltante como o conteúdo do envelope azul.

Se a princípio Jack faz o tipo bufão e o pai posa de rígido, no desenrolar do mistério eles se mostram multifacetados e em evolução. A presença da irmã viciada de Jack é um ponto de conflito. Entre os reféns, a crise do casal mais velho aborda com delicadeza as arestas que se criam pela culpa e a falta de diálogo. Já entre as futuras jovens mamães o impasse está no receio da entrada na nova fase. Todos falam menos do que sabem nos interrogatórios. As personagens mais enigmáticas são a funcionária do banco, que obviamente não estava no apartamento com o objetivo de comprá-lo, e a idosa. A real conexão entre elas vem à tona em um dos picos de emoção.

O título não reflete o estado de espírito de todos os personagens e, no fim das contas, Gente Ansiosa arma um painel humano emoldurado pela generosidade. Não tivesse o humor a banhar cada episódio, poderia se tornar um enfado, mas não. O inusitado dá o tom e o improvável une os tipos diversos e cativantes. A fonte inspiradora é o livro homônimo do sueco Fredrick Backman, mesmo autor de Um Homem Chamado Ove, cuja adaptação de 2015 foi indicada ao Oscar de filme internacional.

Ficha Técnica

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