Vencedor do Oscar, do Bafta e do Globo de Ouro na categoria Melhor Filme Estrangeiro, premiado em Cannes, Toronto e em outra dezena de festivais, Drive My Car colocou a nova geração da cinematografia japonesa sob os holofotes. Dirigido por Ryusuke Hamaguchi, esse drama com três horas de duração é uma obra delicada, contemplativa, que demanda paciência e entrega do espectador. Adaptada do conto de Harumki Murakami, a trama acompanha o processo de luto de Yûsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), mas é também uma história de amor, traição e arte, que ainda flerta com o policial.
Um prólogo de 40 minutos foca a relação entre o protagonista, que é ator e diretor de teatro, com Oto (Reika Kirishima), a esposa roteirista. Na cama, ela narra ao marido parte de seu novo projeto, um relato sensual que termina com uma cena de masturbação feminina. Oto é uma mulher linda, bem-sucedida e feliz no casamento, apesar da perda de uma filha. Um dia depois de descobrir um segredo sobre a mulher, porém, Kafuku fica viúvo de forma repentina. Só então os créditos de abertura preenchem a tela. A história avança dois anos e o traz de malas prontas para uma temporada em Hiroshima, onde vai assumir uma nova montagem de Tio Vânia, de Checkov.
Destruída pela bomba atômica durante a Segunda Guerra, a cidade da ilha de Honshu renasceu das cinzas e alcançou a modernidade. O diretor faz um sensível paralelo do cenário com o protagonista, ainda em cacos emocionalmente. A vida imita a arte também nos ensaios da peça, em um instigante jogo metalinguístico. Kafuku faz escolhas ecléticas para o elenco, como se bagunçasse a ordem natural. Para o papel de Sônia, sobrinha do protagonista, escala uma atriz muda. Para tio Vânia, elege um rapaz muito mais novo que o personagem, um jovem ator que lhe foi apresentado por Oto, dias antes da morte dela. Estão todos fora da zona de conforto.
Para Kafuku, não é nada agradável ser obrigado pela organização do evento a ceder a direção de seu xodó, um Saab 900 vermelho, para uma motorista, Misaki (Tôko Miura), moça calada e extremamente profissional. No trajeto diário para o teatro, eles ouvem o tape com a gravação de Tio Vânia que Oto fez especialmente para ajudar o marido a ensaiar as falas, quando ele mesmo protagonizou a peça. A voz suave de Oto será o elo de Misaki com a arte. Ela também enfrenta traumas pessoais, que o enredo desvenda sem pressa. Naquele pequeno casulo vermelho, esses dois seres machucados pela vida começam a se abrir. É lindo de ver.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Drive My Car/Doraibu mai kâ
Direção: Ryusuke Hamaguchi
Duração: 180 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Japão, 2021
Elenco: Hidetoshi Nishijima, Reika Kirishima, Tôko Miura
Distribuição: O2 Play