Dias Vazios

Dias Vazios começou bem a carreira, em 2018. Foi exibido na Mostra de Tiradentes e saiu do 22º Cine PE com os troféus de melhor ator (Arthur Ávila), melhor atriz Coadjuvante (Carla Ribas) e melhor direção de arte (Letycia Rossi). A estreia do diretor goiano Robney Bruno Almeida, também roteirista, impressiona pelo domínio da linguagem cinematográfica e pela coragem (meta)narrativa, além da competente fotografia de Maurício Baggio.  

Adaptação do premiado livro Hoje Está um Dia Morto (2006), de André de Leones, Dias Vazios tem como cenário a pequena cidade de Silvânia, interior de Goiás, num tempo anterior à febre dos celulares, das redes sociais, da Internet, do streaming. É ali que o estudante do último ano do ensino médio, Daniel (Arthur Ávila), namorado de Alanis (Natália Dantas), escreve um livro sobre Jean (Vinícius Queiroz) e Fabiana (Nayara Tavares), casal de namorados que, dois anos antes, também alunos da mesma série no mesmo colégio católico, teve um destino trágico: ele cometeu suicídio, e ela, grávida, desapareceu.

Dividido em três capítulos, O Livro de Daniel, O Coração de Jean e O Triste Fim de Fabiana, o filme faz, principalmente na primeira metade, um jogo interessante de pontos de vista, embaralha narradores, repete diálogos e situações com outra roupagem. Ao fundo, o céu sempre cinza da cidade, o deserto das ruas e dos bares, a impessoalidade dos corredores do colégio, os cômodos das casas vazias dos protagonistas, órfãos de cuidado familiar, do sentido da vida e de futuro. Além deles próprios, sua única interlocutora parece ser a freira diretora da escola (Carla Ribas, de Aquarius), cujo interesse genuíno pelos “sonhos” dos adolescentes na antevéspera do conflituoso rito de passagem não necessariamente é imparcial.

A câmera de Almeida que, longe dos diálogos, enquadra lentamente paisagem, cenários e os corpos nus dos namorados, funde, no ritmo e nas imagens, do marasmo da cidade à mesmice do cotidiano de seus personagens. Há referências a Nirvana, Radiohead, Columbine e à HQ “A Morte de Super-Homem” salpicadas pelo filme, cujo terceiro ato mergulha ainda mais fundo num incômodo abandono, um quase niilismo, mesmo que ainda sob o jogo narrativo entre realidade e ficção. Há um radicalismo formal na proposta de Almeida, que apesar de esteticamente justificável, reduz consideravelmente o foco narrativo da história e lhe rouba as frestas possíveis – acredito - de transcendência.

Ficha Técnica

Assista Agora!