Destacamento Blood

Era enorme a expectativa em torno do novo filme de Spike Lee, depois da obra-prima Infiltrado na Klan, que levou o Oscar 2019 de melhor roteiro adaptado. Pois o cineasta assina sua primeira produção para a Netflix, Destacamento Blood, e está mais engajado do que nunca. Ele revisita a Guerra do Vietnã (1955-1975) por um escopo crítico a retratos hollywoodianos no estilo de Rambo e Braddock, que eternizaram Sylvester Stallone e Chuck Norris como “exército de um homem só”.

Seu pelotão é um quinteto afro-americano batizado com nomes de integrantes da icônica banda The Temptations: Paul (Delroy Lindo), Otis (Clarke Peters), Melvin (Isiah Whitlock Jr.) e Eddie (Norm Lewis). O quinto elemento é o comandante Norman (Chadwick Boseman, Crime Sem Saída), como chamava o produtor e compositor do grupo. É para resgatar seus restos mortais, e um tesouro que está enterrado no mesmo lugar, que os quatro amigos voltam ao “inferno” mais de 40 anos depois do fim da guerra. Deparam-se com uma Saigon modernizada, mas com as marcas do passado ainda visíveis.

Ao entrelaçar a história com imagens reais, como os discursos pacifistas de Martin Luther King Jr. e de Muhammad Ali, Spike Lee protesta contra um disparate moral: soldados negros perdiam a vida do outro lado do mundo em uma guerra que nem era sua, enquanto a comunidade negra lutava em solo americano pelos direitos civis e sofria a violência perpetrada pelo mesmo governo que enviou seus jovens para o front. Esse é o centro nervoso de Destacamento Blood e Lee tinha munição suficiente com seus cinco heróis, que aparecem em ação em flashbacks.

A questão é que o roteiro foi escrito pelo diretor e mais três autores, e o excesso de mãos criou um exagero de subtramas, como o filho de Paul que aparece sem aviso, o reencontro de Otis com a ex-amante vietnamita, a parceria do esquadrão com um suspeito empresário (Jean Reno) e um time de caçadores de minas terrestres liderado por uma francesa (Mélanie Thierry). Essa metralhadora furiosa atira para todos os lados durante 2h30, mas o único personagem que ganha complexidade é Paul, o mais danificado psicologicamente e para quem o cineasta cria monólogos acachapantes, em que Delroy Lindo engole a câmera.

Decidido a dar um tom épico ao seu barril de pólvora, Lee faz inúmeras referências a clássicos como Apocalipse Now e O Tesouro de Sierra Madre, mescla a ficção com cenas reais, usa diferentes filtros nas imagens, brinca com enquadramentos, e remexe esse caldo com uma trilha sonora dominada pela alma da soul music, Marvin Gaye. Destacamento Blood é uma zona (quase) ótima.

Ficha Técnica

Assista Agora!