Deerskin: Estilo Matador

O diretor e roteirista francês Quentin Dupieux, também conhecido como o DJ Mr. Oizo, estourou em 1997 com o hit "Flat Beat", que introduziu o personagem Flat Eric, um simpático bonequinho amarelo doidão que o colocou nas paradas de sucesso. Da direção dos videoclipes de suas músicas para o cinema foi um passo de dez anos. Em 2007, lançou Steak, exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que inaugurou seu estilo nonsense com traços de gore, fronteiriço entre o horror e o humor. Há isso tudo em Deerskin: Estilo Matador, também chamado de Deerskin: A Jaqueta de Couro de Cervo.

Dupieux reúne dois astros do atual cinema francês, Jean Dujardin (O Oficial e o Espião, Oscar por O Artista) e Adèle Haenel (Retrato de uma Jovem em Chamas). Georges (Dujardin) acaba de se divorciar, não tem trabalho, não tem nada. No caminho para qualquer lugar, ele compra por uma soma exorbitante, seus últimos euros, uma apertadíssima jaqueta de couro de cervo de segunda mão, cujo brinde é uma câmera digital quase sem uso. Com elas, Georges é outro homem, se admira e se filma no espelho.

Ele entra no primeiro hotel que encontra, na paisagem rural dos Pireneus Atlânticos. No bar vazio do vilarejo, se apresenta como cineasta à Denise (Adèle), cujo sonho é ser editora de filmes, e inventa histórias de uma produção mirabolante na Sibéria. Mas a jaqueta começa a conversar com Georges, e lhe conta seu maior desejo: ser a única jaqueta do mundo. Como Georges quer ser, também, único, decide realizar o desejo da jaqueta (e o dele?) e filmar a empreitada. Denise embarca no projeto sem pestanejar, mesmo com toda a carnificina envolvida. Durante as filmagens, Georges completa o look matador com luvas, bota e calça de couro de cervo.

Embora pareça óbvia a metáfora da desumanização de Georges no limiar trapaceiro entre razão e loucura, nada é óbvio nesta comédia de humor negro nem na direção de Dupieux. O cineasta faz ainda uma crítica nem tão velada assim ao poder de alienação do cinema, especialmente como entretenimento. Denise conta que remontou Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), de Quentin Tarantino, na sequência cronológica e tece seu comentário sobre o resultado. Não é por acaso que Georges espera suas vítimas saírem da sessão do pequeno cinema local. É como se, com sua versão do avesso do conto infantil Pele de Asno, de outro francês, Charles Perrault, Dupieux quisesse mostrar que por baixo do figurino inusitado de Georges se esconde algo monstruoso, que ainda por cima nos faz rir. Desnorteador e instigante.

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