Woody Allen (Um Dia de Chuva em Nova York) começou a carreira escrevendo roteiros para seriados de TV, mas não voltava ao formato há décadas. O cineasta disse que fazer Crise em Seis Cenas, como roteirista, diretor e ator, foi “muito, muito difícil. A minissérie recebeu duras críticas, mas o que pode haver de tão errado em assistir a um filme de Woody Allen em seis partes? Isso sem falar que o cineasta nos faz rir com a situação de confinamento de uma de suas protagonistas, um alento em tempos de quarentena.
Para situar os anos 1960, a série abre com imagens ícones da década e troca o habitual jazz pelo som de “Volunteers”, da banda de rock psicodélico Jefferson Airplane. O narrador avisa que é tempo de revolução, mas nem tanto para o escritor Sidney J. Munsinger (Allen), que surge num hilário embate literário com seu barbeiro. De um lado, a série flerta com eventos e movimentos marcantes como a Guerra do Vietnã, os Panteras Negras e os hippies. De outro, brinca com a inusitada forma com que o casal de idosos nova-iorquinos burgueses, Sidney e Kay (Eliane May, Califórnia Suite), lida com o burburinho político e social.
Quem faz o elo entre os dois lados é a revolucionária Lennie (Milley Cirus, A Última Música), que acaba de atacar um guarda para fugir da prisão, e vai se esconder na casa de Sid e Kay, já que Kay tem uma dívida afetiva com a família dela. O plano de Lennie é fugir para Cuba, mas para isso ela precisa da ajuda do casal com uma certa mala, uma certa arma e por aí vai. A ‘hiponga’ não tem papas na língua, come o tempo todo, inclusive a laranja preferia de Sid. Ela também seduz o hóspede da casa, Alan (John Magaro, Máquina de Guerra), reprimido filho de um banqueiro amigo do casal e noivo da angelical Ellie (Rachel Brosnahan, da série The Marvelous Mrs. Maisel).
Se Sid tem as melhores tiradas sobre política, nos seus pouco amistosos diálogos com Lennie, e dispara torpezas como o tema de seu primeiro livro, cujo título é ‘Deixe que se faça a luz’, sobre um proctologista que encontra Deus nos lugares mais estranhos, Kay não fica nada atrás. Ela é consultora matrimonial, atende em casa, onde recebe também as amigas do clube de leitura. Os casais de pacientes e as reuniões do clube são atrações à parte.
Woody Allen levou para a telinha a excelência de grande parte da seus fiéis colaboradores, mas o diretor de fotografia dinamarquês Eigil Bryld (prêmio Emmy de melhor fotografia pela série House of Cards) arrasou na primeira parceria com o cineasta. Muitas das críticas pontuaram a ausência dos arcos narrativos dos personagens, outras para a excessiva teatralização. Mas a proposta de Crise em Seis Cenas é muito mais enfileirar esquetes cômicos, num vaudeville anárquico, do que jogar com as regras habituais do formato. Então, relaxe e divirta-se.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Crise em Seis Cenas/Crisis in Six Scenes
Direção: Woddy Allen
Duração: 23 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2016
Elenco: Woody Allen, Miley Cyrus, Elaine May, John Magaro, Rachel Brosnahan, Lewis Black, Gad Elmaleh, Rick Younger
Distribuição: Amazon Prime