Um empresário espanhol completa 80 anos e decide mudar a imagem de milionário, dono de uma fortuna obscena e sem nenhum prestígio. Pensa em erguer uma ponte com seu nome e doar para o governo, mas no fim acha que financiar um filme será seu maior legado. Só que precisa ser um filmaço. O time que ele contrata em Concorrência Oficial é formado por uma trinca de ouro: os espanhóis Penélope Cruz e Antonio Banderas, e o argentino Oscar Martinéz, ou melhor, Lola Cuevas, Félix Rivero e Iván Torres.
Indicada ao Leão de Ouro em Veneza 2021, a atração da Star+ é a nova empreitada dos irmãos Gastón e Andrés Duprat, que junto com o também portenho Mariano Cohn realizaram o premiado Cidadão Ilustre (2016). O que eles armam é uma engenhosa sátira metalinguística, um filme dentro do filme, ou nem tanto. O que o espectador verá basicamente são os ensaios, que de básicos não têm nada. A excêntrica Lola é a roteirista e diretora avant-garde que usa métodos heterodoxos para extrair o melhor de seus antagônicos protagonistas. Iván é contido e arredio ao estrelato, daqueles que mergulham no personagem. Já Félix é celebridade, tem assistente a tiracolo e diz que o segredo de seus inúmeros prêmios é estudar o roteiro e falar o texto com convicção. Tudo faz rir em Concorrência Oficial.
Escrito a seis mãos pela trinca de cineastas, o enredo tanto celebra quanto critica as idiossincrasias da sétima arte. Lola, Félix e Iván são arquétipos lapidados dos tipos que circulam pela indústria do entretenimento. O que se vê é o choque entre forças criativas de estilos diferentes, porém igualmente talentosas. A genialidade está na inspiração desse elenco esplendoroso, que se lança em um hilário jogo de espelhos consciente de que retrata a si mesmo e seus pares da elite da dramaturgia. Há humor no olhar, nos gestos e até nos figurinos.
O filme que ensaiam é uma livre adaptação do fictício romance Rivalidade, cujos direitos custaram o olho da cara ao milionário, por ter sido laureado com o Nobel de Literatura. Vale um parêntesis para a brincadeira dos cineastas: o escritor em crise de Cidadão Ilustre, que deu a Copa Volpi de atuação para Oscar Martinéz em Veneza, era autor de uma obra vencedora do Nobel. Em resumo, o livro é sobre a complicada relação entre dois irmãos, traumatizados pela morte dos pais e apaixonados pela mesma mulher. Complicada também é a rixa entre Félix e Iván, embora a esperta Lola saiba bem como manejar seus astros.
Concorrência Oficial é em grande parte filmado no Teatro Auditorio San Lorenzo de El Escorial, em Madrid. É uma estrutura arquitetônica moderna e monumental, com acústica única e impressionante iluminação natural. Repare no trabalho do diretor de fotografia, o catalão Arnau Valls Colomer, na forma como ele absorve o espaço na trama e lhe dá significado. Closes, panorâmicas, jogos de câmera e enquadramentos estudados dão alma não só aos personagens, mas ao cinema em si. Apurem os sentidos e divirtam-se.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Concorrência Oficial/Competencia Oficial
Direção: Mariano Cohn, Gastón Duprat
Duração: 115 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Argentina/Espanha, 2021
Elenco: Penélope Cruz, Antonio Banderas, Oscar MartÃnez, José Luis Gómez, Irene Escolar, Manolo Solo, Pilar Castro
Distribuição: Star+