Como Vender a Lua

Não deve ter sido um projeto simples de tirar do papel, mas Scarlett Johansson e sua produtora These Pictures bancaram a ideia de fazer um filme com gostinho de ontem. Como Vender a Lua brinca com uma famosa teoria conspiratória sobre a chegada do homem à Lua. Neil Armstrong não teria sido o primeiro a pisar em solo lunar, seguido de Buzz Aldrin, porque o pouso televisionado ao vivo teria sido falso. A roteirista estreante Rose Gilroy (filha da atriz Rene Russo) desenvolve a ideia em uma comédia romântica à moda antiga, com um pé no atual mundo das fake news. Os bastidores da NASA nos meses que antecedem o histórico 20 de julho de 1969 é o cenário dessa trama cheia de charme.

É ali que desembarca Kelly Jones, a intrépida marqueteira interpretada por Scarlett, não sem antes dar uma amostra de sua habilidade em vender o que for e de circular em um mercado dominado por homens. O chamado vem do topo, na figura do agente governamental vivido pelo sempre cool Woody Harrelson (Zumbilândia). É tempo de Guerra Fria e a missão é dupla. A marqueteira precisa convencer a opinião pública da importância de o país vencer a União Soviética na corrida espacial e angariar fundos para o projeto Apollo 11. Seus métodos nada ortodoxos colidem com os do regrado diretor de lançamento da NASA, Cole Davis, papel do "colírio" Channing Tatum (Cidade Perdida).

A atribulada dinâmica da dupla remete a clássicos do gênero “opostos que se atraem”, eternizado pelos amados e amantes Spencer Tracy e Katherine Hepburn, de sucessos como A Mulher do Dia (1942) e A Costela de Adão (1949). Com diálogos provocativos e olhares furtivos, o ingênuo romance pode até parecer antiquado para o público atual, mas funciona às mil maravilhas porque o diretor Greg Berlanti (Com Amor, Simon) e seu elenco acertam o timing do humor. O drama entra com leveza quando o enredo se volta ao passado dos protagonistas para desvendar as raízes de personalidades tão díspares. É justamente a vida pregressa de Kelly que faz com que assuma um controverso e secreto plano alternativo para garantir a vitória: encenar um pouso falso em estúdio.

A magia do cinema entra no modo fake news. No comando de um time de centenas de especialistas, Cole vive a tensão dos ajustes finais até a contagem regressiva, sem imaginar que em outro pavilhão um excêntrico diretor e uma atrapalhada equipe de filmagem forjam a chegada à Lua. Não é difícil prever o final, mas o que vale é o prazeroso caminho até ele. O título original, Fly Me to the Moon, em português Leve-me para a Lua, é uma expressão poética que sugere desejo por aventuras e experiências extraordinárias. Kelly e Cole querem superar o passado e elevar para um futuro melhor. E o fazem ao som de “Fly Me to the Moon”, eternizada por Frank Sinatra. Para levantar voo e sair com um sorriso no rosto da sessão. 

Ficha Técnica

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