Carta Registrada começa com uma tentativa de suicídio. A protagonista, Hala (Basma), sobrevive, mas a ideia de tirar a própria vida ainda a assombra. Deprimida é pouco para descrever essa mulher que não superou a morte recente do pai e não tem ânimo para cuidar da filha bebê. Enquanto o marido paga as contas como bancário, ela observa a vida pela janela, e não falta movimento no Cairo, a capital egípcia. Para movimentar seu dia, a vizinha de apartamento lhe pede ajuda com o pai doente para poder trabalhar, mas é só.
O estreante Hisham Saqr assina a direção e o roteiro desse retrato sem concessão de um distúrbio ainda tabu, carente de compreensão e que o atingiu pessoalmente. Vítima de depressão e ansiedade, o cineasta saiu a campo para pesquisar mecanismos possíveis de defesa. Saqr amplia o debate ao colocar esse peso sobre uma mulher em uma sociedade fortemente patriarcal. No caso de Hala, o antídoto parece estar curiosamente em um novo abalo mental. Seu marido comete um erro involuntário no valor do depósito de uma cliente, passa a ser investigado por fraude e é preso preventivamente.
Esse novo trauma coloca Hala em uma situação limite. Ou ela se mata de vez ou arregaça as mangas para não só colocar comida na mesa como para tentar descobrir o paradeiro da mulher que pode desfazer o mal-entendido. A carta registrada do título é o mistério que ronda esse processo de emancipação. Não há remetente, mas o conteúdo é um papo reto de alguém que tem empatia por seu drama e que lhe propõe uma nova maneira de encarar a situação. Carta Registrada é um filme bem-intencionado, mas com uma narrativa aborrecida, que anda a passos lentos e encontra soluções simplistas.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Carta Registrada/Bi Elem El Wossoul
Direção: Hisham Saqr
Duração: 95 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Egito, 2019
Elenco: Basma, Mohamed Sarhari, Passant Shawky
Distribuição: A2 Filmes