Buraco na Parede

Um câncer terminal é a fagulha que deflagra Buraco na Parede, mas o road movie sul-africano não é sobre a morte, e sim sobre a vida. O próprio codiretor Andre Odendaal interpreta o protagonista, Rian, um homem de meia-idade que descobre ter pouco tempo de vida. Um dia conhece na praia a jovem Ava (Tinarie van Wyk Loots), que, por acaso, tem experiência com pacientes com câncer e aceita a proposta de cuidar dele por um mês. Mas nós não acreditamos em acaso, porque Ava será também o motor de transformação de Ben (Nicholas Campbell), filho de Rian, que é escalado como terceiro passageiro de uma viagem (supostamente) sem destino.

Tem se aqui uma família disfuncional. Rian é pai ausente, não vê o filho há 3 anos e está divorciado há 15 da mãe superprotetora do rapaz. Esse pai não tem pretensão e nem esperança de uma reconciliação. O que ele quer é transmitir a Ben um pouco de sua experiência, tirá-lo da zona de conforto e lançá-lo de volta ao mundo sem algumas travas. Digamos que Rian teve uma jornada pra lá de agitada.

Há frescor nessa produção independente falada em africâner, língua de origem holandesa mesclada com francês, alemão e até malaio, fruto da colonização europeia. O enredo tem momentos barra pesada por causa dos efeitos da doença, mas o foco não é esse. O passeio pela costa leste sul-africana coloca os protagonistas e o espectador em contato com uma natureza exuberante, mas também com uma porção pobre da população.

No balneário de Wild Coast – olha a dica turística –, eles param no tal Buraco na Parede, uma formação rochosa que lembra muito a nossa Pedra Furada, de Jericoacoara. A metáfora é óbvia, mas muito linda. Rian quer que Ben rompa barreiras, derrube as paredes e enxergue o horizonte. Enfim, que abrace o desafio que é viver. É uma mensagem universal e atemporal, transmitida por um homem desajustado cujo legado pode se resumir a esse instante de comunhão entre pai, filho e natureza. Um instante iluminado.

Ficha Técnica

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