Blue Jay

A Netflix deu sinal verde para a produção de Blue Jay sem ter um roteiro, apenas um argumento de dez páginas escrito por Mark Duplass. Para quem não o conhece, Mark forma com o irmão Jay a dupla de diretores, roteiristas, produtores e atores Irmãos Duplass, cultuada no universo do cinema independente por filmes como Cyrus e Paddleton, este último dirigido pelo mesmo Alex Lehmann que comanda essa pequena pérola. O cineasta assina também a belíssima fotografia em preto e branco, como se nada mais pudesse desviar a atenção do público da dupla central, formada por Duplass (Paddleton) e Sarah Paulson (Vidro).

Eles são Jim e Amanda, namorados dos tempos da escola que se reencontram 20 anos depois na mesma cidade do interior em que cresceram, mas a qual deixaram há tempos. Amanda veio visitar a irmã grávida, Jim precisa decidir o que fazer com a casa da mãe recém-falecida. Blue Jay é o nome do bar em que eles vão tomar um café após se cruzarem no supermercado. O que Duplass propõe aqui é desafiador: partir da ideia descrita no pequeno argumento citado acima e improvisar diálogos e situações.

É autêntico e natural o constrangimento quando se veem no corredor de condimentos do mercado, e não sabem o que dizer um ao outro. O papo continua trivial no cafezinho no Blue Jay, mas quando um antigo conhecido se refere a eles como “os famosos pombinhos apaixonados” o espectador se liga que o romance não foi passageiro. Depois de um pit stop no lago que costumavam ir, Amanda e Jim vão para a casa da mãe dele, que funciona como uma máquina do tempo. O passado abraça o presente através de objetos, roupas e, principalmente, uma fita-cassete cuja inusitada gravação dá a dimensão da intimidade, do amor e dos planos que um dia eles compartilharam.

A vida de hoje e de ontem é a matéria-prima dos diálogos dessas almas gêmeas, e a dura razão do rompimento se revela em uma sequência que beira à perfeição, na qual Amanda e Jim são adultos e adolescentes simultaneamente. Blue Jay é como uma sinfonia que se compõe sozinha, na hora da gravação, sem ensaios, e cujos acordes nascem da emoção, da criatividade e da confiança entre os músicos. Todas as notas soam belamente nesse dueto de arrepiar.

Ficha Técnica

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