domingo, 01 de junho de 2025
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Açúcar


Açúcar
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Mesmo trio do elogiado Amor, Plástico e Barulho, os diretores, roteiristas e produtores Renata Pinheiro, Sérgio Oliveira (Estradeiros) e a atriz Maeve Jinkings (Boi Neon) filmaram Açúcar em 12 dias, com equipe diminuta, em um engenho prestes a ruir na Zona da Mata. É preciso disposição para embarcar nessa jornada alegórica, que começa com um barco a vela cortando a seca terra do sertão pernambucano, rumo ao Engenho Wanderley. Dentro dele, de vestido claro, joias, salto alto e cabelo alisado, vai Maria Bethânia (Maeve), para abrir a velha Casa Grande lá no alto da colina, castigada pelo tempo, pela decadência da cultura do açúcar, pela falta de recursos da proprietária-herdeira. Mas ainda imponente.

A patroa volta para impedir que os antigos trabalhadores, hoje donos de parte da terra de sua família, tomem posse também da casa e da propriedade. Ao contrário de Maria Bethânia, eles plantaram flores tropicais, criaram o Centro Cultural Cabo Verde para resgatar a preservar a cultura afro da região, e conseguiram patrocínio da Holanda para ampliar o projeto, praticamente autossustentável. Zé (José Maria Alves, O Clube dos Canibais) lidera o Centro e as negociações com a visitante.

Açúcar

Ele pede a Alessandra (Dandara de Morais) para faxinar a casa e ver o que acontece por lá. Maria Bethânia recebe a visita da madrinha Branca (Magali Biff), que se aproxima de Zé para descobrir suas intenções. Ambos dizem que é preciso conhecer o inimigo. Açúcar é sobre impossibilidades. São quatro personagens em busca de um caminho, cada um deles com sua agenda e linguagem própria. O casal de diretores extrai atuações exatas de seu quarteto de atores, sempre no limiar do intangível. Perdida entre o desejo do velho poder e o medo do novo, Maria Bethânia despreza ao ponto da agressão física Zé e Alessandra. Zé, o humilde homem do povo, e Alessandra, “possuída” pelo ritualismo de seus ancestrais, não ecoam mais a submissão da senzala. E Branca, claro, é a que vai se aproveitar até da condição frágil da afilhada para tentar comprar as terras.

Tudo isso se desenha em ritmo contemplativo, em poucas sequências e diálogos raros, calcados nos detalhes, olhares, no contraste dos amplos planos do engenho e closes dos personagens, sempre em movimento. No seu vai e vem, eles levantam o pó árido que é deles, da terra, do tempo, da nossa história de casas grandes e senzalas. As raízes do realismo fantástico que permeiam a narrativa fogem do tom na parte final. Mesmo assim, desembocam num desfecho plausível, ainda que dilacerante. Talvez seja necessário se despedir do passado para encontrar novos horizontes, mesmo que seja tão dolorido.




Trailer

Ficha Técnica

Título: Açúcar
Direção: Renata Pinheiro, Sergio Oliveira
Duração: 90 minutos

País de Produção/Ano: Brasil, 2018
Elenco: Maeve Jinkings, Magali Biff, Dandara de Morais, José Maria Alves
Distribuição: Boulevard Filmes

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Fátima Gigliotti

Fátima Gigliotti

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Cinéfila incorrigível, jornalista, editora, professora (não muito), crítica (chatinha) de cinema e audiovisual. Trabalhou no jornal A Folha de São Paulo, na coleção Cinemateca Veja, nas revistas TVA, Ver Vídeo, Set, Querida e Preview.