Em 2017, um ano antes de sua morte, o francês Charles Aznavour mostrou ao amigo e cineasta Marc di Domenico um cômodo secreto de sua casa, onde guardava rolos e mais rolos de filmes. As imagens foram captadas entre 1948 e 1982, com a câmera Paillard-Bolex que ganhou da diva da música francesa Edith Piaf (1915-1963, foto abaixo), sua amiga e madrinha profissional. “Filmei em todo lugar, o tempo todo e nunca mostrei a ninguém, talvez você saiba o que fazer com eles”, disse a Domenico. Aznavour por Charles é um diário imagético, 83 minutos fascinantes com o olhar do artista sobre o mundo e sua gente.
A narração é do ator Romain Duris (A Nossa Espera), em um texto íntimo construído com extratos de cinco biografias de Charles Aznavour e também das principais entrevistas concedidas por ele desde 1950. Foram 70 anos de carreira, mais de mil canções e 60 filmes, mas o documentário não é um retrato de seu legado artístico. As turnês o levaram aos quatro continentes, inclusive para a Armênia, terra de seus ancestrais, fugidos para a França como órfãos do genocídio de 1915. Considerado o Frank Sinatra francês, Aznavour cnão cantou apenas o amor, a boêmia e a juventude.
Os anônimos que registra com sua câmera também estão em letras de cunho social, marca de um artista que veio do nada e teve consciência do valor de suas conquistas. Para os fãs, músicas famosas como “La Bohème” e “For Me... Formidable” ganham novo sabor quando se compreende o espírito do cantor ao escrevê-las. As histórias dos seus amores são recontadas liricamente, ditadas pelas estações do ano – a primavera como o prenúncio de novos romances. “Filmo, logo existo”, brincava Aznavour, que registrava maravilhado a beleza de Anouk Aimé e Catherine Deneuve em seus dias como ator.
Foi assim até conhecer Ulla (foto acima), a sueca para quem compôs a maravilhosa “She” e se tornou a terceira e última esposa, mãe de três de seus cinco filhos. São as cenas familiares as mais preciosas. Está documentada inclusive a dor pela morte precoce de Patrick, aos 25 anos, fruto do segundo casamento. Aznavour faleceu aos 94 anos, em 2018. Permaneceu ativo e cantando até o fim. Aznavour por Charles é mais que uma cinebiografia. É prova de que a delicadeza e sensibilidade de suas canções são espelho de seu caráter.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Aznavour por Charles/Le regard de Charles
Direção: Marc di Domenico, Charles Aznavour
Duração: 83 minutos
PaÃs de Produção/Ano: França, 2019
Elenco: Romain Duris (voz)
Distribuição: Imovision