Os números são inferiores aos projetados, mas vultosos. Entre a quinta da estreia e domingo, Avatar: O Caminho da Água bateu R$ 40 milhões na bilheteria nacional, quase 22 vezes mais que o segundo colocado, Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, com R$ 1,8 milhão no mesmo período. A Disney esperava alcançar US$ 500 milhões na abertura mundial, mas os cinemas fechados na China, por conta da Covid, fizeram a fatura ficar em US$ 435 milhões. Como o mercado financeiro não perdoa, as ações da companhia despencaram 4,8% na Bolsa de Nova York na segunda, 19.
Interessante, contudo, é a forte adesão ao 3D. Nos EUA, segundo o Exhibitor Relations Co., 57% da arrecadação no fim de semana da estreia veio do formato tridimensional. O diretor, roteirista e produtor James Cameron demorou 13 anos para lançar a continuação porque sabe que seu chamariz é a tecnologia e tinha de surpreender. A paixão pelo mar é anterior a Titanic (1997). Uma equipe de mergulho se deparou com um alien em O Segredo do Abismo (1989), e depois vieram documentários subaquáticos como Expedition: Bismarck (2002) e Criaturas das Profundezas (2005).
Em 2012, Cameron virou notícia ao se tornar a primeira pessoa a explorar sozinha a região mais profunda da crosta terrestre. Parceira na expedição, a National Geographic disse que o cineasta avistou uma paisagem “lunar”, submersa a mais de 10 km do Oceano Pacífico. Todo esse fascínio se traduz no deslumbrante visual de Avatar: O Caminho da Água. A década que separa a continuação do original está incorporada na trama, com Jake Sully (Sam Worthington) como o feliz patriarca e líder do clã Omatikaya. Ao lado de Neytiri (Zoe Saldana), ele se dedica à criação dos três filhos: Neteyam (Jamie Flatters), Lo'ak (Britain Dalton) e Tuk (Trinity Jo-Li Bliss). O clã se completa com a filha adotiva Kiri (Sigourney Weaver) e Spider (Jack Champion), um humano abandonado em Pandora na infância.
A saída da floresta acontece depois que a paz é rompida por um inesperado ataque. Quando Jake percebe que é o alvo e que sua família está ameaçada, ele e Neytiri decidem buscar asilo nas ilhas oceânicas de Pandora. Assim conhecemos o lar do clã Metkayina. Em nova parceria com Cameron, 25 anos depois de Titanic, Kate Winslet faz Ronal, a invocada matriarca que antevê que a presença dos exilados vai colocar todos em perigo. Vilão do original, Stephen Lang volta como um avatar que teve as memórias do Coronel Quaritch inseridas em seu DNA.
Se o discurso anti-imperialista soou forte no primeiro, a mensagem agora é bifurcada. Em situação de risco, os Sully serão testados como família e como indivíduos. À sua maneira, cada um terá de aprender a navegar no perigoso mundo marinho e enfrentar a desconfortável dinâmica de ser aceito na nova comunidade. No YouTube há inúmeros vídeos de bastidores das filmagens subaquáticas, com astros e estrelas batendo recordes de prender o fôlego (Kate Winslet aguentou 7 minutos). Cameron realiza nova façanha com a captura de movimento e promove uma imersão sem igual para quem assistir em 3D e IMAX.
O outro tema central é a gestão ambiental. A importância da conservação e a conexão com o mundo natural são explorados na dramaturgia, principalmente através dos Tulkuns, uma espécie de baleia que habita Pandora e vive na mira de caçadores humanos. Se a abordagem das questões familiares não foge ao convencional, não falta comoção na amizade entre o filho mais rebelde de Jake com um Tulkun. Esses dois seres de certa forma marginalizados entram em comunhão, compartilham suas dores e dão sentido à frase primordial da franquia Avatar: “I see you”- Eu te vejo. Que venham Avatar 3, 4 e 5, já em produção.
Trailer
Ficha Técnica
Título: Avatar: O Caminho da Água/Avatar: The Way of Water
Direção: James Cameron
Duração: 192 minutos
País de Produção/Ano: EUA, 2022
Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Kate Winslet, Stephen Lang, Cliff Curtis, Joel David Moore, Jack Champion
Distribuição: 20th Century Studios