Primeiro longa de ficção da francesa Mati Diop, Atlantique já entrou para a história do cinema. Mati não apenas tornou-se a primeira cineasta afrodescendente a ter um filme em competição nos 72 anos do Festival de Cannes, como saiu da Riviera Francesa com o Grande Prêmio do Júri. A produção da Netflix representa o Senegal no Oscar 2020 e está na shortlist dos 10 títulos que disputam uma das 5 vagas na categoria melhor filme internacional (nosso A Vida Invisível, infelizmente, ficou de fora).
Atlantique é essencialmente uma história de rito de passagem, porém imersa no cinema de gênero sobrenatural. Também coautora do roteiro, Mati abraça dois temas centrais: as tradições religiosas e culturais do Senegal, de maioria muçulmana, e a desigualdade social. Não há panfletagem e a trama é movimentada por um romance e uma investigação criminal. É Souleiman (Ibrahima Traoré) quem conhecemos primeiro. Pedreiro na construção de um arranha-céu em Dakar, a capital senegalesa, ele e os colegas operários não recebem salário há três meses. Em uma cena magistral, externam a frustração cantando na volta para casa, na caçamba de um caminhão. Souleiman é apaixonado por Ada (Mama Sane), com quem se encontra em segredo, pois a garota está prometida ao abastado Omar (Babacar Sylla).
Ada entra em desespero quando recebe notícias de que o amado partiu de barco com amigos para migrar para a Espanha e não deu mais sinal de vida. Para completar, a festa de seu casamento é interrompida por um incêndio criminoso que pode indicar o retorno de Souleiman. O policial encarregado do caso passa a dividir o protagonismo com Ada na busca pelo paradeiro de Souleiman. Em paralelo, o empresário corrupto dono da construtora tem sua mansão invadida pelas namoradas dos rapazes que também estavam no mar. Só que as moças parecem tomadas por espíritos – seus olhos estão brancos e elas se movimentam como zumbis.
Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, a diretora por vezes se dispersa e perde a chance de se debruçar com mais esmero sobre a jornada pessoal de Ada. Em poucos dias, a personagem passa por mudanças bruscas e toma atitudes que selam sua passagem para a vida adulta. Para uma novata na direção, contudo, Mati merece aplausos. Atlantique acredita no poder do amor como força propulsora da emancipação, da busca por justiça, da crença em dias melhores. É muito bonito.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Atlantique/Atlantics
Direção: Mati Diop
Duração: 106 minutos
PaÃs de Produção/Ano: França/Senegal/Bélgica, 2019
Elenco: Mame Sane, Ibrahima Traoré, Babacar Sylla, Nicole Sougou
Distribuição: Netflix