domingo, 03 de dezembro de 2023
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Assassinos da Lua das Flores


Assassinos da Lua das Flores
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Martin Scorsese viralizou no TikTok esses dias, com o vídeo de uma audição. Ele diz que depois de 10 filmes com Robert De Niro e 6 com Leonardo DiCaprio está em busca de um novo muso que possa levá-lo mais longe, a outro nível. A câmera capta então seu candidato a astro, um fofucho cão schnauzer, a quem chama de Oscar. O humor e o espírito jovial desse mestre da sétima arte, que completa 81 anos no próximo 17 de novembro, talvez seja uma chave para compreender a sagacidade com que realizou a obra-prima Assassinos da Lua das Flores. Mais um título para sua lista de triunfos. 

Com De Niro, temos Caminhos Perigosos (1973), Taxi Driver (1976), New York, New York (1977), Touro Indomável (1980), O Rei da Comédia (1982), Os Bons Companheiros (1990), Cabo do Medo (1991), Cassino (1995) e O Irlandês (2019). E da parceria com DiCaprio vieram Gangues de Nova York (2002), O Aviador (2004), Os Infiltrados (2006), Ilha do Medo (2010) e O Lobo de Wall Street (2013). Embora De Niro e DiCaprio tenham contracenado em O Despertar de um Homem (1993) e As Filhas de Marvin (1996), é a primeira vez que atuam juntos sob a batuta de Scorsese. Assassinos da Lua das Flores é um acontecimento.

Assassinos da Lua das Flores

Junto a Silêncio (2016), sobre intolerância religiosa, esse é um dos filmes mais engajados do diretor. Longe dos centros urbanos, palco da maioria de seus filmes, ele aterrissa nas Grandes Planícies da Oklahoma de 1920, para resgatar uma história real de extermínio, amor, ganância e justiça. Scorsese e Eric Roth, vencedor do Oscar pelo roteiro de Forrest Gump (1994), adaptam o romance investigativo de David Grann, que por dez anos se debruçou sobre os assassinatos dos Osage. Expulsa de suas terras ancestrais no fim de século 19, a tribo de nativos americanos se realocou em uma região seca e pedregosa que, ninguém sonhava, iria jorrar petróleo e colocar os mais de 2 mil membros da reserva entre a nata dos mais ricos do mundo.

Os brancos entraram no pedaço como arrendatários, responsáveis pela prospecção e exploração do petróleo. Muitos eram considerados aliados, entre eles William Hale, interpretado por De Niro, um respeitado benfeitor da comunidade, que fazia doações para escolas e hospitais locais. Na verdade, um lobo na pele de cordeiro que, entre tramoias financeiras, estimulava parentes seus a se casar com mulheres osage para herdar suas fortunas, em caso de morte. Aí entra DiCaprio, como o sobrinho de Hale, Ernest Burkhart, veterano da Primeira Guerra que se engraça com Mollie Kyle, personagem da excelente Lily Gladstone. Essa é, sim, uma história de amor. Torta, mas autêntica. Do amor cego que se recusa a enxergar o horror diante dos próprios olhos.  

Assassinos da Lua das Flores

Scorsese não tem (nenhuma) pressa em desenhar essas relações e alinhavá-las com a série de misteriosos assassinatos de membros da tribo, em especial da família de Mollie, formada exclusivamente por mulheres. São quase 3h30 de duração, que não se fazem sentir porque o espectador é transportado para uma realidade longínqua no espaço e no tempo, porém presente e atual na essência. Imbuído pelo preconceito e pela cobiça, o ser humano manifesta sua desumanidade, de formas inconcebíveis, desde que o mundo é mundo. Na trama, a cadência sanguinária chega à esquina do enfado, mas volta ao trilho com a entrada em cena dos homens do recém-criado FBI.

Jesse Plemons vive o texano Tom White, um dos únicos agentes que o cabeça do departamento, J. Edgar Hoover, permitiu que usasse chapéu de caubói. A investigação policial das mortes alavanca a trama e entusiasma o público com o aceno da justiça. Com índios osage à frente e atrás das câmeras, além de colaboradores frequentes de Scorsese, Assassinos da Lua das Flores é uma valiosa peça de realismo lírico. Destaque para a trilha sonora composta por Robbie Robertson, morto no último 9 de agosto, aos 80 anos, de doença não divulgada. Ele orquestra uma sinfonia tensa e conduz o ânimo dos personagens, e do espectador, com uma pulsante mescla de percussão e guitarra. A cada acorde, uma sensação, impressionante.

Assassinos da Lua das Flores

O metafórico título do filme faz referência a um fenômeno da natureza. No território Osage, durante a lua cheia de maio, as pequenas flores roxas das pradarias quebram seus galhos e se espalham pelo solo, abrindo espaço para plantas maiores. A “lua que mata as flores”. Assassinos da Lua das Flores começa em uma cerimônia fúnebre, com o choro sentido do chefe da tribo e seus membros, que lamentam não só a morte de um dos seus. Eles sofrem pela consciência de que sua cultura pode ser aniquilada pelas “plantas maiores”. É doído, triste, real. E Scorsese, com sua genialidade, faz essa dor ecoar nas dores dos povos oprimidos do século 21.




Trailer

Ficha Técnica

Título: Assassinos da Lua das Flores / Killers of the Flower Moon
Direção: Martin Scorsese
Duração: 206 minutos

País de Produção/Ano: EUA, 2023
Elenco: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Jesse Plemons, Lily Gladstone, Tantoo Cardinal, John Lithgow, Brendan Fraser
Distribuição: Paramount Pictures

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Suzana Uchôa Itiberê

Suzana Uchôa Itiberê

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Cinéfila incorrigível, jornalista de plantão, crítica de cinema (não muito) chatinha e editora caprichosa. Cria do jornal O Estado de S. Paulo, trabalhou nas revistas TVA, Set, Istoé Gente e foi cofundadora da revista Preview. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).

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