Este delicado drama húngaro conseguiu o que desejávamos para A Vida Invisível: ficar entre os 10 pré-selecionados para indicação ao Oscar Internacional. Não entrou no quinteto finalista, mas não lhe faltam méritos. À sua maneira, na Budapeste do pós-guerra, Aqueles que Ficaram também tece uma história de vidas invisíveis, tanto aquelas arrancadas à força bruta pelo holocausto quanto as dos sobreviventes, assombrados por memórias e perdas, cujo luto inimaginável ainda foi silenciado por um regime autoritário.
É esse extrato impalpável e doloroso da ausência, tantas delas, que o diretor Barnabás Tóth encena em seu segundo longa-metragem, com a história de Aldo (Károly Hajduk) e Klára (Abigél Szõke). Na capital húngara, em 1948, Aldo é o reservado ginecologista, envelhecido para seus 42 anos, que atende uma jovem de 16 anos de puberdade tardia, Klára, extrovertida, culta e rebelde. Ele perdeu a esposa e os dois filhos no campo de concentração, ela se recusa a aceitar a morte dos pais e se culpa pela da irmã caçula. É sua única parente, a tia-avó Olgi (Mari Nagy), quem leva a garota ao médico, preocupada com a ausência de menstruação. O tratamento dá certo e quando Klára procura o médico para contar, começam a se criar fortes laços entre eles.
Aldo acaba adotando Klára num combinado com Olgi. A juventude dela e o cheiro de pai dele consolam a ambos e os aproximam. Mas o controle social stalinista está sempre à espreita, ameaçador. É admirável como o diretor Tóth, coautor do roteiro adaptado do livro homônimo de Zsuzsa F. Várkonyi, desenvolve Aldo e Klára pela afeição e companheirismo, e a partir deles apresenta o mundo em que vivem. Aqueles que Ficaram traz impresso em sua tessitura cinematográfica a sutileza que a sobriedade da fotografia, da direção de arte e da trilha sonora enfatizam.
A uma certa altura, um amigo médico, que também adotou com a esposa duas órfãs da guerra, pergunta a Aldo a idade de Klára. Ele responde que dos 5 aos 70 anos, ela poderia estar em qualquer lugar. É com diálogos desse quilate, lapidados pela atuação do elenco num labirinto de múltiplos sentidos, que Tóth pinta um comovente e íntimo retrato do pós-holocausto.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Aqueles que Ficaram/Akik maradtak
Direção: Barnabás Tóth
Duração: 83 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Hungria, 2019
Elenco: Károly Hajduk, Abigél Szõke, Mari Nagy, Barnabás Horkay, Katalin Simkó
Distribuição: Supo Mungam Films