domingo, 14 de setembro de 2025
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Alice Guy-Blaché: Primeira Cineasta do Mundo


Alice Guy-Blaché: Primeira Cineasta do Mundo
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“Ela foi esquecida pela indústria que ajudou a criar” talvez seja a frase, de um dos muitos entrevistados, que mais traduza o projeto documental de Pamela B. Green sobre a pioneira do cinema Alice Guy-Blaché (1873-1968). A diretora, que também assina o roteiro, a edição e a coprodução do documentário de 2018, ano em que o movimento #Metoo saiu de Hollywood para ganhar o mundo, parece ser motivada tanto pela curiosidade como pela indignação, numa combinação explosiva, mas com momentos sublimes.

É a narrativa da atriz e diretora Jodie Foster (Feriados em Família), também produtora executiva do projeto, que conduz o resgate de Alice Guy-Blaché, desde sua biografia até seus grandes feitos como produtora e cineasta nas primeiras décadas do nascimento do cinema, tanto na França como nos Estados Unidos, e o doloroso ostracismo ao qual ela tentou, bravamente, resistir.

Alice Guy-Blaché: Primeira Cineasta do Mundo

É uma trajetória notável. A jovem Alice era secretária estenógrafa de Léon Gaumont (1864-1946), inventor, engenheiro e pioneiro dos projetores de cinema. Acompanhou o chefe na célebre primeira exibição privada do cinematógrafo dos Irmãos Lumière, em 1895, quando tinha 22 anos. No ano seguinte já dirigia o que é considerado o primeiro filme ficcional da sétima arte, A Fada do Repolho. Conquistou o cargo de chefe de produção da Gaumont, realizando centenas de filmes, muitos deles utilizados pela empresa para vender celuloide e projetores em todo o mundo.

Na década de 1910, casou-se com o inglês Herbert Blaché-Bolton, funcionário de destaque nas vendas da Gaumont, e mudou com ele para Nova York, onde continuou a fazer filmes de sucesso. Tanto, que construiu seu próprio estúdio de produção, a Solax Company, que de 1910 a 1913 foi o maior estúdio de cinema dos Estados Unidos, antes de Hollywood. Nessa mesma época, deu à luz seus dois filhos. Quando o marido decidiu entrar para a Solax, como parceiro de produção e diretor, o casamento e o estúdio fracassaram, sob a sombra da Primeira Guerra Mundial e do nascimento dos trustes da indústria cinematográfica.

Alice Guy-Blaché: Primeira Cineasta do Mundo

Alice perseverou, inclusive estava presente nas filmagens de O Garoto, convidada de Charles Chaplin. Mas não lhe restou alternativa a não ser voltar para a França com os dois filhos pequenos e uma produção de, estima-se, cerca de mil filmes, muitos deles vanguardistas, experimentais, colorizados, até sonoros, e com histórias ousadas para a época, visão crítica e senso de humor até hoje admiráveis. Tentou voltar ao trabalho na França, sem sucesso, e a sobrevivência falou mais alto.

Da cineasta que o russo Serguei Eisenstein e o inglês Alfred Hitchcock reconhecem como importante influência, ninguém se lembra. É consenso que já em seu berço, a indústria do cinema afastou as mulheres dos estúdios, assim como o inventário da historiografia audiovisual foi durante décadas um privilégio – e uma narrativa - masculino. Mas a diretora Pamela B. Green não mediu esforços, nos oito anos em que se dedicou ao documentário Alice Guy-Blaché: A História não Contada da Primeira Cineasta do Mundo, em grande parte financiado pelo empresário Hugh Hefner, para reunir informações e revelar o legado da pioneira francesa.

Alice Guy-Blaché: Primeira Cineasta do Mundo

Seu filme é uma eletrizante, no bom e no mau sentido, cruzada jornalística pelos Estados Unidos, pela França e Europa, em que entrevista historiadores, pesquisadores, colecionadores, e descobre parentes que nem sabiam, eles próprios, sobre a cineasta, de quem guardavam preciosos documentos. Se Pamela B. Green inclui entre os depoentes importantes cineastas e artistas, de Peter Bogdanovich a Agnès Varda, para amplificar o apelo do documentário, mesmo que a sua contribuição seja basicamente essa, é perdoável. Alice Guy-Blaché merece.

PS – Estão disponíveis no Telecine Play seis curtas da cineasta, O Cair das Folhas, Americanização, A Garota na Poltrona, Algie, O Mineiro, Casamento às Pressas, A Orfã do Oceano, O Amor Maior de um Homem




Trailer

Ficha Técnica

Título: Alice Guy-Blaché: A História não Contada da Primeira Cineasta do Mundo/Be Natural: The Untold Story of Alice Guy-Blaché
Direção: Pamela B. Green
Duração: 103 minutos

País de Produção/Ano: EUA, 2018
Elenco: Jodie Foster (narradora)
Distribuição: Arteplex Filmes

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Fátima Gigliotti

Fátima Gigliotti

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Cinéfila incorrigível, jornalista, editora, professora (não muito), crítica (chatinha) de cinema e audiovisual. Trabalhou no jornal A Folha de São Paulo, na coleção Cinemateca Veja, nas revistas TVA, Ver Vídeo, Set, Querida e Preview.