Karim Aïnouz tem vivido tempos agitados. Seu belíssimo A Vida Invisível venceu a Mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes 2019, tentou uma vaga para o Brasil no Oscar 2020 de filme internacional e teve boa temporada na telona brasileira. Agora, em plena quarentena, o diretor muda os planos de estrear Aeroporto Central nos cinemas e lança o documentário direto em streaming. A produção integrou a Mostra Panorama do Festival de Berlim 2018 e conquistou o prêmio da Anistia Internacional.
Faz uma década que o cineasta cearense mora em Berlim. Seu também premiado Praia do Futuro, inclusive, tem parte da trama ambientada na capital alemã. Nas horas vagas, Aïnouz frequenta um dos maiores parques da cidade, no desativado aeroporto central, o Tempelhof Airport. O documentário abre com uma guia turística e um pequeno grupo em visita pelos saguões. Ela conta rapidamente a história do aeroporto, aberto em 1923 e expandido para se tornar um símbolo do poderio nazista.
O diretor faz então uma panorâmica aérea que capta a majestosa arquitetura da construção, para então cortar para uma salinha de triagem de refugiados. Em 2015, ele notou a movimentação de pessoas nos gigantescos hangares, transformados em abrigos de emergência. Ao longo de um ano, registrou a rotina daqueles que viviam e trabalhavam no centro, em especial do estudante sírio Ibrahim, de 18 anos, que estava ali sem nenhum familiar. O rapaz é também o narrador de sua própria história, em ritmo de reminiscência. Outro em foco é o fisioterapeuta iraquiano Qutaiba, que sonha ser médico, mas no momento trabalha como tradutor.
Aïnouz é mais observador que investigador. Parece não querer se fazer notar no recinto. Aeroporto Central é sóbrio, poético, focado no humano e sem pretensões de pintar um retrato dos horrores da guerra. A câmera percorre os hangares sem pressa. As tomadas externas mostram a passagem do tempo, a troca de estações. Há uma falsa calmaria no ar, como se a vida dos refugiados estivesse em suspensão pela incerteza do futuro, entre a esperança do asilo e a ameaça de deportação.
Não acontece muita coisa em um cotidiano de entrevistas com o serviço social, aulas de alemão e exames médicos. Na noite de ano novo, Ibrahim vê o show de fogos de artifício. “O som dos fogos e o da guerra são quase iguais. Me lembraram de como a violência destruiu nossa vida na Síria”, ele comenta. Seu drama se agiganta nesse momento, assim como o de todas aquelas pessoas que enfrentaram muito mais que uma quarentena no Aeroporto Central. Tocante.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Aeroporto Central/Zentralflughafen THF
Direção: Karim Aïnouz
Duração: 97 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Alemanha/França/Brasil, 2018
Elenco:
Distribuição: Mar Filmes/Canal Brasil