Adeus à Noite

O veterano diretor e roteirista André Téchiné (O Homem Que Elas Amavam Demais) aborda um tema tão necessário quanto delicado em Adeus à Noite: a atração dos jovens por um viés mais fanático do islamismo. O diretor é respeitado por ser progressista e liberal tanto em sua obra quanto fora dela, mas a neutralidade pode se configurar num desafio com a França – e a Europa – assolada por eventos trágicos como o atentado ao Charlie Hebdo, em 2015.

Téchiné foi coautor do argumento, em parceria com o diretor iraquiano Amer Alwan, e do roteiro, escrito com Léa Mysius (Os Fantasmas de Ismael). O filme narra a volta do neto pródigo, Alex (Kacey Mottet Klein, de Quando Se Tem 17 Anos, também de Téchiné), para a fazenda da avó Muriel (Catherine Deneuve, em sua oitava colaboração com o diretor). Ele veio se despedir antes de uma longa temporada no Canadá. Viúva, ela viveu na Argélia, é sócia de um árabe na administração da fazenda, e aberta à recente conversão de Alex ao islamismo, levado pela namorada Lila (Oulaya Amamra), órfã reservada, ajudante na sua propriedade há anos.

Foi Muriel quem cuidou de Alex após a morte precoce da mãe dele, sua filha, já que o pai se mudou com a nova família para longe. Ela sabe que há algo de estranho e temeroso em seu comportamento. Mas não podia adivinhar que o neto estava partindo para treinamento pelo grupo Estado Islâmico. O espectador já sabe, o que não nos impede de mergulhar, com Catherine, na angústia e na incerteza de como reagir à situação.

A trama se passa durante cinco dias da primavera de 2015. Muriel e seu sócio Youssef (Mohamed Djouhri) andam por uma florida plantação de cerejeiras, ameaçada por javalis, sob um eclipse total do sol. Não por acaso, os órfãos Alex e Lila parecem presa fácil, com suas fragilidades expostas, e o filme compara, em montagem paralela, um alegre jantar de comemoração de Muriel com os amigos e os rituais radicais de Alex na nova comunidade. Nem sempre Téchiné e sua equipe acertam nas escolhas técnicas da construção das cenas, nem o filme acerta em seus caminhos narrativos. Mas em Adeus à Noite há uma solução, ainda que provisória, embora não necessariamente neutra ou pacífica, para o dilema de Muriel e Alex. Na vida real, nem tanto, e é bom ser instigado a refletir sobre isso.

Ficha Técnica

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