quinta, 10 de outubro de 2024
Cinema Drama Horror

A Substância


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O que atrai você para ver um filme? Elenco estrelado, tema e premiações podem estar entre as respostas ou até mesmo um combinado delas. A Substância tem Demi Moore e Margaret Qualley como protagonistas, faz uma crítica mais do que ácida à ditadura da beleza e teve o roteiro premiado no Festival de Cannes. Interessante é perceber quantas vezes isso surte o efeito esperado e se resulta em satisfação ou decepção. Mas vamos à trama. Diva de Hollywood com estrela na Calçada da Fama e apresentadora de um programa sobre boa forma, Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é demitida sem aviso pelo chefe (Dennis Quaid).

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Enquanto ele procura uma substituta novinha para alavancar a audiência, ela entra em desespero e decide participar de um misterioso experimento. Basta aplicar uma solução líquida no corpo para gerar uma versão jovem de si mesma. Com um detalhe. Não há convivência. No período de uma semana, uma fica inconsciente enquanto a outra toca a vida. Passados os sete dias, uma nova dose é dada e a troca é feita. Ou assim deveria ser... Sue (Margaret Qualley), a estonteante versão jovem, não perde tempo e vira a nova sensação do programa. Alucinada pelo efeito milagroso, Elisabeth vai descobrir da pior forma possível os perigos do culto à perfeição.

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A diretora e roteirista francesa Coralie Fargeat estreou com Vingança (2017), suspense gore com muita ação, doses cavalares de sangue, sons, corpos nus e closes em feridas. Foi sensação no circuito independente. Em The Substance (título original), ela realiza um legítimo body horror, subgênero do terror que explora mutilações e transformações grotescas do corpo humano. É preciso ter estômago. Closes, sons e cores estão de volta, assim como uma pulsante sensualidade. Abundam enquadramentos do derrière e do corpo feminino, que se movimenta ao som de uma trilha majoritariamente eletrônica.

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Afirmar que a incensada cineasta se repetiu seria injustiça. A Substância aborda um tema atual e cada vez mais urgente. As redes sociais estão aí para comprovar que uma significativa parcela da sociedade, em especial as mulheres, nutre uma doentia busca pela beleza. O número crescente de intervenções feitas, inclusive por homens, é revelador e assustador. O problema é que o premiado roteiro se limita ao drama da rejeição da personagem pelo etarismo e o sofrimento provocado pelo envelhecimento.

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A quebra do pacto semanal merecia ir além das bizarrices físicas provocada por, digamos, overdoses da substância. A monstruosidade que toma forma nessa luta corporal tem algo do cultuado A Mosca (1986), de David Cronenberg. A citação mais explícita é ao clássico Carrie, A Estranha (1976), de Brian De Palma. Ao mergulhar sua obra, mais uma vez, no universo gore, a cineasta retira o vigor que a trama poderia ter e se atém a uma alegoria. Os diálogos são fracos e o que sobra do ponto de vista imagético, e haja exagero nesse aspecto, falta na questão da reflexão sobre o assunto. Surpreende que uma obra com quase 2 horas e meia de duração careça, sem perdão pelo trocadilho, de substância.




Trailer

Ficha Técnica

Título: A Substância / The Substance
Direção: Coralie Fargeat
Duração: 140 minutos

País de Produção/Ano: Reino Unido, França, 2024
Elenco: Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid
Distribuição: Imagem Filmes, MUBI

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Roberto Cunha

Roberto Cunha

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Louco por filmes e séries. No caldeirão profissional, trabalhou na Rede Globo, Jornal do Brasil, Rádio Transamérica e Telecine. Foi editor-chefe do AdoroCinema, editor-executivo da revista Preview e membro do Super-Júri JB (Revista Programa). Produziu, escreveu e apresentou o Drops de Cinema na Rádio Cidade e na StereoZero (webradio), ambas do Grupo JB FM, do Rio de Janeiro.

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