A Música da Minha Vida

É bom já avisar: ser fã de Bruce Springsteen, o lendário ídolo do rock de New Jersey, o The Boss, não é nada necessário para desfrutar da inspirada jornada pessoal, musical e cinematográfica de A Música da Minha Vida. Na trama ambientada em 1987, Javed (o carismático Viviek Kalra), adolescente britânico descendente de paquistaneses, encontra nas letras das canções de Springsteen a bússola e o compasso para guiar seu caminho rumo à vida adulta.

Se a adolescência já não é um período fácil, a de Javed parece ser um pouco pior. Afinal, além da nova escola, dos hormônios em ebulição, dos acenos e anseios do futuro, ele tem de lidar com a educação severa do pai (Kulvinder Ghir) e suas tradições familiares, o acirrado preconceito contra os paquistaneses na pequena Luton, e a crise econômica comandada pela Dama de Ferro, Margaret Thatcher, então primeira-ministra da Inglaterra – que deixa seu pai desempregado e a família, em dificuldade. Como se não bastasse, Javed quer ser escritor.

No colégio, ele se interessa pela politizada Eliza (Nell Williams), faz amizade com o paquistânes sikh Roops (Aaron Phagura) e chama a atenção da professora de inglês (Hayley Atwell, a Peggy Carter, grande amor do Capitão América). Enquanto ela estimula Javed a se dedicar ao sonho literário, ele se desentende com o amigo de infância Matt (Dean-Charles Chapman), cada vez mais fã dos sintetizadores, e é introduzido à música de Bruce Springsteen por Roops.

É difícil de acreditar, mas a diretora e roteirista Gurinder Chadha (Driblando o Destino) abarca todos esses temas, ambientes e personagens com clareza, simpatia e lhes dá profundidade até. Javed, o filme e o espectador vão ganhando mais tônus, brilho e deslumbramento a cada música (e às vezes, número musical) inserida na narrativa, em tudo fiel aos anos 1980.  

O título original do filme, Blinded by the Light (Cego pela Luz), de uma canção do primeiro álbum do roqueiro, de 1973, remete à autobiografia do jornalista britânico Sarfraz Manzoor, coautor do roteiro, Greetings from Bury Park: Race, Religion and Rock N’ Roll. Mas não se trata de uma adaptação, e sim de um filme “inspirado pelas letras e músicas de Bruce Springsteen”. Manzoor assistiu a mais de 150 shows do roqueiro.

A Música da Minha Vida se irmana aos filmes musicais bem-sucedidos da temporada, como Bohemian Rhapsody, Rocketman e Yesterday, tanto na qualidade musical como na merecida homenagem. Mas se distingue por reescrever os anos 1980 como um simulacro da atual Inglaterra em tempos de Brexit e destacar o papel essencial da cultura e da arte para despertar, inspirar e estimular novos olhares sobre nós mesmos e o mundo que nos cerca.

Ficha Técnica

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