Casey Affleck é muito mais do que o irmão caçula de Ben Affleck, caso alguém tenha ainda alguma dúvida. Se Ben ganhou dois Oscar, de melhor filme por Argo (2012), e roteiro original por Gênio Indomável (1997), Casey ganhou o de melhor ator por Manchester à Beira-Mar (2016) e foi indicado ao de coadjuvante por O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007). O irmão mais velho pode ter sido o Batman, mas Casey está nos três filmes da franquia artesanal de Steven Soderbergh Onze Homens e Um Segredo (2001).
Na direção, Casey surpreendeu no mockmentary Eu Ainda Estou Aqui (2010), estrelado por Joaquin Phoenix, o Coringa. Nessa época, já trabalhava no roteiro deste intrigante A Luz no Fim do Mundo, que dirige e estrela, ao lado da carismática Anna Pniowsky. Ela é Rag, a filha de 11 anos de um dedicado pai – que não tem nome, a não ser Papai – num mundo apocalíptico devastado por uma praga que matou praticamente todas as mulheres do planeta, inclusive a mãe dela. Vagando por florestas frias, ele fica em constante vigília e ela finge ser menino para se proteger. Os dois ficam numa casa abandonada por um tempo e depois decidem ir até à casa da avó, mas estão sempre em perigo.
O argumento evoca filmes do gênero como A Estrada (2009), algo de Filhos da Esperança (2006) e do mais recente Sem Rastros (2018), mas o ótimo trabalho de Casey Affleck afronta as fronteiras da distopia e introduz na narrativa um drama familiar requintado e um suspense sussurrado, mas onipresente. Apoiado na química notável entre sua jovem protagonista e ele próprio, Casey começa seu filme com uma longa história de ninar que evoca a parábola da arca de Noé. São cerca de 12 minutos, uma cena de abertura desde já memorável, que anuncia o ritmo próprio desta cruzada dos personagens, não apenas nos ambientes hostis em que pai e filha lutam para sobreviver, mas também para dentro deles mesmos.
Casey não foi poupado de acusações de abuso em Hollywood, que vieram à tona na mesma época em que ganhou o Oscar. No Festival de Berlim, onde A Luz no Fim do Mundo foi selecionado para a Mostra Panorama, ele declarou que o seu roteiro, em que as mulheres são praticamente extintas da face da Terra – e que poderia ser visto como uma ‘reação’ ao #Me Too – já estava escrito muito antes do movimento, que ele elogiou. O amor pela filha e a devoção paternal de que é feito o filme reverenciam a mulher, é bom dizer, e avançam em questões existenciais comuns a todo ser humano.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: A Luz no Fim do Mundo/Light of My Life
Direção: Casey Affleck
Duração: 119 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2019
Elenco: Anna Pniowsky, Casey Affleck, Tom Bower, Elisabeth Moss
Distribuição: Imagem Filmes