Para aqueles que gostam de ouvir uma boa música e curtem saber um pouco mais sobre a origem delas ou dos artistas, os documentários costumam preencher essa lacuna. A Era de Ouro foge desse formato. O drama biográfico resgata uma figura desse universo, Neil Bogart, executivo de gravadora que enfrentou grandes companhias e sacudiu o mercado com propostas muitas vezes malucas, do ponto de vista artístico e, principalmente, comercial. O clássico "Oh Happy Day" (Edwin Hawkins Singers), eternizado no cinema em Mudança de Hábito (1992), é apenas um exemplo do quão visionário foi Neil Bogart. Ele experimentou o fracasso, o sucesso e a morte de maneira igualmente rápida, aos 39 anos, em 1982.
Nascido Neil Scott Bogatz (Jeremy Jordan), cresceu como fã incondicional do pai (Jason Isaacs), um jogador inveterado, e fez da vida uma grande aposta. Sem sonhar pequeno, mudou seu nome mais de uma vez, fosse como cantor ou ator pornô. Atingiu a fama como Neil Bogart, sobrenome alusivo ao ator do filme que batizou sua gravadora: Casablanca Records. A frente dela, contraiu uma dívida milionária com a máfia italiana para bancar suas ideias, como fazer uma música de mais de 15 minutos tocar nas rádios. Exímio praticante do famigerado jabá (pagamento para que tocassem a música), investiu o que tinha e o que não tinha num grupo de mascarados (Kiss) e numa americana radicada na Alemanha (Donna Summer). Bogart cheirou muitas carreiras para ver o brilho de suas estrelas, ofuscou seu casamento com Beth Bogart (Michelle Monaghan) e casou-se com sua agente Joyce (Lyndsy Fonseca).
Produzido por familiares ao longo de anos, Spinning Gold (título original) foi escrito e dirigido pelo filho mais velho, Timothy Scott Bogart. Homenagem aberta ao pai, o longa será interessante para quem não vivenciou os anos 1970, mas ouviu seus hits. Agora, para quem estava lá, chacoalhou a cabeça com o Kiss e balançou o esqueleto com a Rainha da Disco Music, o roteiro não funciona. Sua condução, inclusive, prejudica o elenco, que não é ruim, mas atua sem emoção. O flerte com o gênero musical não incomoda e é louvável que a família não escondeu como Bogart chegou a dar uma pirada. Na trilha sonora, atores soltam a voz em clássicos como “Shout It Out Loud” e “Rock And Roll All Nite”, do Kiss, ou ainda “Bad Girls” e “Last Dance”, de Donna Summer.
A Era de Ouro impacta porque possui história e protagonista fascinantes. No entanto, o “amor” envolvido arranha a realização. Nas mãos de alguém menos íntimo do retratado e mais familiarizado com a dinâmica do cinema, o resultado, certamente, seria outro. Isso fica claro até nos momentos mais ousados, como na abertura, quando Bogart quebra a quarta parede e dialoga com o espectador, salientando que podem não ser tão certas assim as linhas tortas contadas na trama. O público norte-americano não se interessou pelo filme, que fracassou na bilheteria. Neil Bogart pode até estar fadado ao esquecimento, mas os artistas que descobriu já são eternos. Além de Kiss e Donna Summer, ele nos presenteou com Village People, Gladys Knight, Isley Brothers, Parliament, entre outros.
Trailer
Ficha Técnica
Título: A Era de Ouro / Spinning Gold
Direção: Timothy Scott Bogart
Duração: 137 minutos
País de Produção/Ano: EUA, 2023
Elenco: Jeremy Jordan, Michelle Monaghan, Jason Isaacs, Lyndsy Fonseca, Tayla Parx
Distribuição: Paris Filmes
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Comentários (2)
Agora tenho que assistir!
Excelente crítica!
Roberto Cunha é ótimo crítico e colaborador fiel. Obrigada.