A Chance de Fahim

A Chance de Fahim começa com imagens fortes de uma manifestação popular violentamente reprimida em Bangladesh, em 2011. Um dos que escapam das armas do governo é Nura (Mizanur Rahaman), que pelo jeito é militante atuante, porque logo em seguida ele impede o sequestro de seu filho, Fahim (Assad Ahmed). O garoto de 11 anos é um ás do xadrez e Nura aproveita a deixa de um campeonato em Paris para fazer um autoexílio. A mãe fica com o resto da família, enquanto pai e filho migram ilegalmente com uns poucos trocados no bolso e sem falar uma palavra em francês.

É um adeus doído para o pequeno Fahim, mas a chance de ser treinado por um dos maiores mestres é um alento, e um estímulo. O professor bonachão, ranzinza e invocado chama-se Sylvain e encontra no “Obélix” Gérard Depardieu o intérprete ideal. Ele ensina – e amedronta – a garotada na escola gerenciada pela doce Mathilde (Isabelle Nanty), por quem se desmancha de amores, mas de quem não tem coragem de se aproximar fora do trabalho. Fahim e Nura vão penar para se adaptar ao estilo rígido de Sylvain, principalmente na pontualidade. E o jovem xadrinista, também genioso, vai precisar não só aprender a língua como conter o orgulho e seguir os métodos do treinador.

As transformações que resultam da convivência entre essas duas pessoas de gerações e culturas tão distintas é a parte agridoce da história inspirada em caso real. Mas o diretor e roteirista Pierre-François Martin-Laval, que ainda está no elenco como um antigo rival e desafeto de Sylvain no tabuleiro, está de olho na questão política e social que abarca essa dinâmica. O pedido de asilo de Naru entrava e Fahim fica abrigado na casa de Sylvain, enquanto Naru vira sem-teto e sente na pele a xenofobia e a ameaça de deportação.

Para salvar o pai, Fahim precisa vencer o campeonato pela França e defender sua estadia no país pelo esporte. O final dessa pendenga é previsível e o cineasta aborda com parcimônia temas espinhosos como a relação dos franceses com a “invasão estrangeira”. O verdadeiro apelo de A Chance de Fahim é o veterano Depardieu, que deixa atestado na tela por que é um dos maiores atores da história do cinema. Entre o professor raivoso e o homem tímido há inúmeras camadas, que ele traz à tona com toda a sutileza de um artesão da arte de interpretar.

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