A Casa

A inveja mata literalmente em A Casa, produção espanhola da Netflix que tem rendido comparações ao vencedor do Oscar 2020, Parasita. Menos, bem menos... embora seja um bom thriller. O protagonista, Javier (Javier Gutiérrez), teve seus dias de glória como publicitário, mas perdeu o prestígio e tem sido humilhado em entrevistas de emprego. Ainda assim, dirige um carro de luxo e mora em um apartamento com uma vista de cair o queixo em Barcelona. A esposa Marga (Ruth Díaz) e o filho adolescente estão ligados que a coisa está preta, tanto que ela vai trabalhar em uma loja e sugere que se mudem para a periferia.

A vida segue, mas não para Javier, que começa a espiar os novos moradores do antigo lar: Tomás (Mario Casas, de Um Contratempo), Lara (Bruna Cusí) e a filha pequena. Pior, usa a antiga chave para invadir o apartamento quando eles estão fora, descobre informações sobre a família e se aproxima de Tomás com o claro propósito de voltar ao topo. O plano inclui apenas a si mesmo e essa ego trip materialista toma contornos cada vez mais sombrios.

Escrito e dirigido pelos irmãos David e Álex Pastor, A Casa tem uma largada potente, voltada para a transformação do homem de família em sociopata. A obsessão pelo dinheiro serve de motor narrativo e, embora limitada, a crítica social ganha pungência na figura do jardineiro do prédio, o personagem que desestabiliza Javier. O operário pega-o no flagra e faz uma chantagem com objetivos sórdidos. O duelo entre dois vilões é o que há de mais original na trama.

A armadilha desse tipo de história intrincada é sempre o desfecho e a derrapada aqui é feia. Não é motivo para deixar de assistir ao filme, até pela curiosidade em saber onde Javier vai chegar. Só que o enredo dá uma acelerada na reta final, atropela a verossimilhança e testa a paciência do espectador com sequências que um roteirista iniciante seria capaz de melhorar.

Ficha Técnica

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