segunda, 23 de junho de 2025
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Zona de Interesse


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Uma mulher experimenta um magnífico casaco de pele. Olha-se no espelho com deleite. O vison que agora é seu tem dona, ou tinha. Hedwig é o nome dessa alemã que vive com a família em um casarão com imenso jardim. O detalhe é seu sobrenome, Höss, que vem do marido, Rudolph. Rudolph Höss entrou para a história como o sádico tenente-coronel que, entre 1940 e 1943, comandou Auschwitz, o maior campo de extermínio nazista.

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A confortável casa dos Höss é vizinha da Zona de Interesse, como era chamado o local onde os judeus recém-chegados a Auschwitz passavam pela triagem. Ali tinham seus destinos selados: trabalho forçado ou câmara de gás. Se Hedwig se empenha no embelezamento das flores e da horta, do outro lado do muro, protegido por arame farpado, o esforço é pelo genocídio, pela desumanidade, pela atrocidade. Não há uma só imagem do horror, mas os sons que vêm de lá se traduzem em terríveis cenas que brotam na mente do espectador.

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A propriedade ainda existe, mas o cineasta britânico Jonathan Glazer preferiu erguer seu cenário nas proximidades. Vencedor do Grande Prêmio do Júri e do Prêmio da Crítica em Cannes, Zona de Interesse saiu do Oscar com as estatuetas de filme internacional (pela Inglaterra) e som. O romance homônimo de Martin Amis em que Glazer se baseia apresenta a perspectiva de três oficiais nazistas. Na adaptação, ele introduz Höss e Hedwig como protagonistas.

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A atmosfera é de incômoda calmaria. Os filhos do casal brincam e se preparam para a escola, a mãe coordena a arrumação e o pai, sujeito calmo e dócil, segue a rotina entre o escritório na residência e reuniões na sede do alto escalão. A visita da mãe de Hedwig agita levemente o idílico dia a dia, que inclui passeios por bosques e rios. As duas observam a evolução das plantações no jardim e Hedwig revela com humor o apelido que ganhou de uma funcionária, “Rainha de Auschwitz”.

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Causa aversão e revolta a indiferença com que os Höss ouvem os gritos desesperados de judeus, abafados por berros e tiros vindos dos guardas do campo. É visível apenas a fumaça escura que sai da chaminé das câmaras de gás. A sensação do lado de cá da tela é de aniquilação. Em entrevistas de bastidores, a dupla central ressalta o desafio de humanizar seus personagens. Indicada ao Oscar por Anatomia de uma Queda, Sandra Hüller bem que merecia ter concorrido pelos dois filmes. Seu par em cena, Christian Friedel (13 Minutos), realiza o improvável e enternece o público no trato com filhos e cachorros.

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Muito tem se falado da banalização do mal em Zona de Interesse, mas o buraco é mais embaixo. Há regozijo no olhar de Hedwig ao provar o casaco de pele da judia morta. Há crueldade na forma como ameaça a jovem judia que trabalha na casa. Há vaidade e egoísmo na maneira como protege sua ascensão social e financeira, ao se recusar a deixar Auschwitz apesar da transferência do marido para outro posto. É assombroso o exercício do poder, do revanchismo, da violência moral.

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Zona de Interesse segue por caminhos originais na composição do Holocausto, e une-se a sucessos como A Lista de Schindler (1993), A Vida é Bela (1997) e O Pianista (2002) na missão de manter viva sua memória. E não, não existe na História da humanidade nada que se equipare à perseguição sistemática e ao assassinato de 6 milhões de judeus pelo regime nazista durante a Segunda Guerra.




Trailer

Ficha Técnica

Título: Zona de Interesse / The Zone of Interest
Direção: Jonathan Glazer
Duração: 105 minutos

País de Produção/Ano: Reino Unido, EUA, Polônia, 2023
Elenco: Christian Friedel, Sandra Hüller, Johann Karthaus, Max Beck
Distribuição: Diamond Films

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Suzana Uchôa Itiberê

Suzana Uchôa Itiberê

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Cinéfila incorrigível, jornalista de plantão, crítica de cinema (não muito) chatinha e editora caprichosa. Cria do jornal O Estado de S. Paulo, trabalhou nas revistas TVA, Set, Istoé Gente e foi cofundadora da revista Preview. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).