Sefarad

O propósito de Sefarad, de Luís Ismael (trilogia Balas & Bolinhos), é retratar a história dos judeus portugueses, que apesar de presentes em Portugal desde a Idade Média, foram ‘apagados’ da memória e da vida do país por quatro séculos. O principal personagem do resgate do status da comunidade judaica, principalmente na cidade do Porto, no século passado, foi o capitão do exército Arthur Carlos Barroso Basto (Rodrigo Santos).

Para dar conta do esforço hercúleo, o diretor concentrou-se na cruzada pessoal do capitão Basto. Em 1923, ele reúne algumas dezenas de famílias vindas de várias partes da Europa, cria uma comunidade judaica em Porto, e incumbe-se de duas missões quase impossíveis: construir uma grande sinagoga na cidade – Kadoorie Mekor Haim, inaugurada em 1938, até hoje uma das maiores da Europa, que abrigou centenas de judeus foragidos da Segunda Guerra – e reintegrar os criptojudeus ao grupo e aos cultos praticados por eles.

Também chamados de ‘marranos’, os criptojudeus viveram clandestinos nas aldeias do norte de Portugal desde o édito do rei D. Manuel, assinado em 1496, sob as sombras da Inquisição, que expulsava judeus e mouros do país.  Antes do édito, havia, principalmente em Porto, uma numerosa e próspera comunidade judaica. Para escapar da perseguição, eles mesclaram-se ao cristianismo e mantiveram os rituais judaicos em segredo, arcaicos, traduzidos em português.

Se Basto é o homem de ação, Menasseh (Pedro Galiza) é o da devoção, e os dois compartilham a dificultosa empreitada. Há obstáculos de todos os tipos em seu caminho, e Basto inclusive chegou a ser injustamente expulso do exército, o que lhe deu a alcunha de “Dreyfuss português”. A produção se alimenta desses obstáculos para criar ritmo e envolvimento, embora até um certo ponto. A narrativa propositadamente didática, a rígida costura dos (muitos) fatos e o trabalho do elenco, protocolar, sacrificam por vezes o cinematográfico, mas nunca o histórico.

Ficha Técnica

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