Seberg Contra Todos

A atriz norte-americana Jean Seberg (1938-1979) é dona de uma das trajetórias mais singulares, tanto em Hollywood quanto no cinema europeu. Estreou aos 17 anos, pelas mãos do cineasta austro-húngaro Otto Preminger, em Santa Joana (1957). Foi escolhida entre 18 mil garotas do mundo todo para o papel de Joana d’Arc, do qual saiu, literalmente, queimada. Em 1960, tornou-se musa da Nouvelle Vague e do cinema francês com o clássico Acossado (1960), de Jean-Luc Godard, e jovem estrela internacional, na mira das manchetes dos jornais dos dois lados do Atlântico.

No final dos anos 1960, Jean deixou o (segundo) marido, o roteirista russo Romain Gary (Yvan Attal, O Orgulho), e o filho pequeno em Paris, para voltar a Hollywood. Ali tornou-se entusiasta do movimento dos Panteras Negras, de libertação dos negros norte-americanos, inclusive com doações financeiras. Acabou entrando para a impiedosa mira do FBI. Seberg Contra Todos foca nesse período turbulento na vida da atriz, de 1968 a 1971, combinando situações reais com muita ficção.

Com suas experiências no cinema europeu, não é de estranhar que Kristen Stewart (As Panteras) tenha se interessado pelo desafio de interpretar a mítica Jean Seberg, do qual saiu vitoriosa, aliás. Amparada por um meticuloso trabalho de figurino, cabelo e maquiagem, ela faz uma composição de encher os olhos – e a tela, que dá consistência dramática ao rolo compressor emocional vivido pela personagem.

No filme, Jean torna-se amante de Hakim Jamal (Anthony Mackie, O Ódio que Você Semeia), um dos ativistas do movimento negro mais vigiados pelo FBI. Grampeada pelo agente Jack Solomon (Jack O’Connell, Amor & Tulipas), é elevada à categoria de inimiga da América pelo todo-poderoso J. Edgar Hoover, diretor da agência de investigação na época. Entre as filmagens e a solidão da sua mansão, com a privacidade invadida e a vida manipulada, Jean entra em paranoia. Quando a crise de consciência bate em Solomon, o estrago já foi grande demais.

O diretor australiano Benedict Andrews (Uma) fez o que pôde, com seu ótimo elenco e uma produção sofisticada, para cobrir os furos do roteiro, porém sem muito êxito. Mesmo assim, com essa passagem particular da história de Seberg Contra Todos, Andrews traça um interessante paralelo com o cenário atual de intolerância crescente, ‘celebrização’ de personalidades públicas e invasão de privacidade banalizada e legalizada pelos poderosos da tecnologia. É sutil, mas está lá para quem quiser ver.  

Ficha Técnica

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