O Rei

Sinal dos tempos modernos e da era do entretenimento. Uma das obras mais famosas de William Shakespeare, com adaptações cinematográficas respeitáveis, Henrique V ganha agora uma versão livre, por assim dizer. O bardo inglês dedicou três obras ao legado do rei Henrique V e ao século 15 na Inglaterra, que compreende ainda Henrique IV – Partes 1 e 2, mas nenhuma delas é mencionada no lançamento O Rei, dirigido pelo badalado australiano David Michôd, com roteiro dele e do amigo Joel Edgerton (Boy Erased: Uma Verdade Anulada). 

Aliás, há uma ciranda de amizades na produção de O Rei. Edgerton e Michôd são membros do coletivo BlueTongue Films e trabalharam juntos no filme que lhes deu projeção internacional, Reino Animal (2010). Michôd dirigiu Brad Pitt em Máquina de Guerra (2017), e o ator agora é um dos produtores do filme, que traz Robert Pattinson como o Delfim Charles, filho do rei Charles VI, da França. Michôd e Pattinson trabalharam juntos em The Rover – A Caçada. O novato dessa história, Timothée Chalamet (Um Dia de Chuva em Nova York), que interpreta o papel-título, prova mais uma vez o talento e o carisma que já o levaram a uma indicação ao Oscar por Me Chame pelo Seu Nome. 

Nesta versão ‘reduzida’ de O Rei, antes de ser coroado, Henry rejeita a política bélica do pai e prefere andar pelas tabernas do reino, de mulher em mulher, na companhia do bon vivant John Falstaff (Edgerton), que lutou algumas batalhas pela Inglaterra. Com a morte do irmão e do pai, ele assume o trono e começa a aprender, a altos custos, as artimanhas da política e do poder. Mesmo com sua conduta pacifista, Henry V acaba declarando guerra à França, e lutando na famosa Batalha de Azincourt, decisiva para a supremacia da Inglaterra durante a Guerra dos Cem Anos.

Michôd sabe o que faz na direção, além de contar com preciosos colaboradores,  como o premiado diretor de fotografia Adam Arkapaw (A Luz no Fim do Mundo) e a também premiada figurinista Jane Petrie (da série The Crown). O Rei tem produção sofisticada, eloquentes cenas de batalhas, reconstituição de época impecável, ótimo conjunto de elenco e um ritmo que não denuncia as mais de duas horas de duração. É lamentável, porém, que as licenças poéticas com os originais de Shakespeare, claramente dirigidas para uma versão mais pacifista e crítica aos bastidores da política, tenha negligenciado completamente algo essencial para qualquer reino ou qualquer governo: o povo.

Ficha Técnica

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