O Bar Luva Dourada

Na pré-estreia que a distribuidora Imovision realizou para jornalistas e convidados em São Paulo, havia um cartaz com um aviso: “O Bar Luva Dourada contém cenas de violência extrema e hiper realistas. Proibido para menores de 18 anos. Só para quem tem estômago...” O filme de Fatih Akin provocou mal-estar no Festival de Berlim 2019 e dividiu público e crítica, apesar de o cineasta alemão estar com a moral alta depois de ganhar o Globo de Ouro de filme estrangeiro pelo drama Em Pedaços, que premiou Diane Kruger como melhor atriz em Cannes 2017.

Se o filme anterior era sobre a sede de vingança de uma mulher desmontada pela dor da perda do marido e do filho, destroçados em um ataque terrorista a bomba, em O Bar Luva Dourada estão em pedaços as vítimas do serial killer Fritz Honka, que aterrorizou a Hamburgo dos anos 1970. Ele ia à caça no Bar Luva Dourada, lugar decrépito e frequentado pela escória da sociedade, onde conhecia as mulheres – velhas e maltratadas – que levava para seu imundo apartamento. Depois de sexo sórdido e espancamento, eram mortas, esquartejadas e escondidas dentro das paredes. 

Baseado no livro de Heinz Strunk, o também roteirista Akin registra o psicopata em ação em imagens sem atenuantes. O verdadeiro Honka tinha um rosto deformado e o belo e jovem ator Jonas Dassler desaparece sob a impressionante maquiagem que o transforma no monstro. Não se trata, porém, de um espetáculo de sadismo aleatório. Honka é um entre as muitas aberrações reunidas no Bar Luva Dourada, um microcosmo dos marginalizados de uma Alemanha em árduo processo de cicatrização da Segunda Guerra.

Os crimes mais parecem gritos de socorro desse homem perturbado que tenta em vão se levantar dos escombros, assim como outros fregueses do bar, entre eles um capitão que ainda usa métodos grotescos para exercer autoridade. Passados 30 anos do fim do conflito, as feridas permanecem na mente e no corpo daquela gente. Interessante como o enredo introduz no cenário um casal de adolescentes, para estampar a alienação dos herdeiros do horror. A nova geração cresceu sem consciência do passado que formatou os tipos em frangalhos que compartilham a amargura com shots de Schnaps. Tem se aqui a história real de um assassino muito mais patético do que maquiavélico, em um filme muito mais triste do que chocante.

Ficha Técnica

Assista Agora!