Nove Dias

Indicado ao Oscar pela direção de Quero Ser John Malkovich (1999) e vencedor da estatueta pelo roteiro original de Ela (2013), Spike Jonze é fissurado em histórias “fora da caixa”. Não espanta seu entusiasmo pela trama de Nove Dias, sobre um seletor de almas que tem nove dias para entrevistar candidatos e escolher aquele que vai deixar o limbo e nascer. Jonze assumiu a produção executiva e ajudou a tirar o projeto do papel. Resultado: a estreia em longas do roteirista e diretor brasileiro Edson Oda conquistou o prêmio de Melhor Roteiro em Sundance, o mais badalado dos festivais do cinema independente. Novidade em streaming, Nove Dias tem elenco de astros de blockbusters hollywoodianos.

Will, o protagonista, é interpretado por Winston Duke, de Pantera Negra e Troco em Dobro. Quem faz seu assistente é Benedict Wong, de Doutor Estranho. E entre os aspirantes a seres humanos estão Bill Skarsgård, o palhaço Pennywise de It: A Coisa, e Zazie Beetz, de Coringa e Deadpool 2. Todos se disseram atraídos pela instigante jornada existencial, inspirada em experiências pessoais de Edson Oda. Em conversa em vídeo com OQVER (veja a seguir), o cineasta conta que momentos difíceis o levaram a meditar sobre o valor do aqui e agora. “É muito fácil pra gente projetar coisas e falar ‘vou ser feliz quando aquilo acontecer’, mas tomei consciência de que só o fato de estar aqui já é uma vitória.” A experiência traumática a que Oda se refere foi o suicídio de um tio, quando o diretor tinha 12 anos.

Em um casebre isolado num deserto remoto, Will passa os dias em frente a televisores antigos a observar pessoas em suas vidas terrenas. Ele tem apreço especial pela jovem violinista Amanda (Lisa Starrett), que parece estar com o futuro encaminhado quando ocorre uma tragédia. Enquanto elege a alma para ocupar a vaga, Will empreende uma obcecada investigação sobre o que houve com sua preferida. É um processo sofrido para esse homenzarrão de olhar triste, que não teve uma existência feliz. A trilha sonora, assinada pelo compositor brasileiro Antonio Pinto (Cidade de Deus), dá ritmo à dramaticidade.

A vida antes da vida na visão de Edson Oda é contemplativa e um tanto melancólica. Nascer é um privilégio. O método de Will inclui desafios e dilemas psicológicos que revelem a personalidade das almas concorrentes, e sua capacidade de se adaptar à vida em sociedade. Ele parece ter o controle da situação, até que a otimista personagem de Zazie Beetz balança seus alicerces. É um choque construtivo entre espíritos opostos. Nove Dias é lento, metafísico e não entrega soluções prontas. Mas vale como exercício filosófico. Confira a seguir a íntegra do nosso papo com o cineasta.

Ficha Técnica

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