Ninguém Sabe que Estou Aqui

Há a mão certeira do premiado cineasta e produtor Pablo Larraín (Tony Manero, No, O Clube, Jackie) na coprodução deste pequeno grande filme que marca a estreia de Gaspar Antillo na direção. Antillo recebeu o prêmio de Diretor Estreante este ano no Tribeca Film Festival, o evento capitaneado por Robert De Niro para estimular o cinema independente, como o faz Robert Redford com o Sundance Film Festival. Nada mais justo.

Ninguém Sabe que Estou Aqui introduz seu protagonista, o monossilábico e solitário Memo (Jorge Garcia, o Hurley da série Lost), num passeio furtivo e ágil pelos corredores de uma casa, apesar de seu vasto corpanzil. Quando os proprietários chegam de carro, ele foge para o barco e singra as águas do Lago Lhanquihe, nos confins do Chile. Seu tio Braulio (Luis Gnecco, Neruda), fã de histórias do espaço, repreende seu hábito de bisbilhotar residências alheias. Memo também gosta de costurar na máquina uma capa colorida com paetês que costuma usar para passear no bosque. Os dois vivem de uma rústica criação de ovelhas.

Memo foi cantor adolescente de voz incomparável nos anos 1990, mas suas músicas foram dubladas por Angelo, um garoto de aparência mais comercial, com a aprovação de seu ganancioso pai. A farsa acabou numa briga violenta com traumas severos para os dois lados. Memo se escondeu da vida no silêncio e na obesidade mórbida. Angelo (Gastón Pauls) ficou paralítico e virou celebridade com dicas de qualidade de vida. Esquecida no passado, a história vem à tona e vai dar uma desconcertante acareação num programa de televisão quando a franzina Marta (Millaray Lobos), consultora de moda, se interessa pelo esquivo grandalhão.

Assim como Memo borda os brilhos do talento e do sonho que lhe roubaram, Gaspar Antillo tece sua enxuta narrativa com sugestões, climas e silêncios, emoldurados pela natureza gris enquadrada pela fotografia de Sergio Armstrong, parceiro constante de Larraín. No limiar desfocado entre a mágoa e a revolta, o diretor constrói uma atmosfera ora lúgubre, ora terna, apoiado na excepcional composição de Jorge Garcia para seu atormentado Memo. De alguma maneira impalpável, Ninguém Sabe que Estou Aqui salta da tela com uma indagação incômoda sobre aqueles desejos íntimos que abandonamos com o tempo, mas não conseguimos esquecer.

Ficha Técnica

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