Mostra SP: Miss Marx

Dos 7 filhos (oficiais) do alemão Karl Marx (1918-1883), autor de O Capital, apenas três chegaram à idade adulta. A caçula, Jenny Julia Eleanor (1855-1898), embora sonhasse ser atriz, seguiu firme os passos do pai. Além de tradutora (assinou uma das versões de Madame Bovary), Tussy – seu apelido – tornou-se ativista política e sindical, sufragista e autora marxista. Feminista que defendeu os direitos da mulher e lutou pela abolição do trabalho infantil, Miss Marx era notável.

Indicada ao Leão de Ouro em Veneza 2020, a requintada produção da diretora e roteirista Susanna Nicchiarelli (Nico, 1988) levou o prêmio de melhor filme pela Associação Italiana de Cineclubes, além de troféus pelo figurino e trilha sonora. É de se estranhar, porém, que a cineasta italiana tenha dedicado tão pouco tempo da narrativa aos feitos sociais e intelectuais dessa mulher de fibra, defendida com afinco por Romola Garai (As Sufragistas).

O que está em foco em Miss Marx é sua conturbada vida amorosa. A primeira cena traz Tussy em um discurso comovente no enterro do pai, em 1883. Nascido na Prússia, Marx foi exilado e passou grande parte da vida em Londres, onde nasceu a protagonista. Naquele mesmo ano ela se aproxima do médico inglês Edward Aveling (Patrick Kennedy, Peterloo), com quem funda a Liga Socialista, em parceria com William Morris. No filme, Aveling é retratado como um bon-vivant sem dinheiro no bolso, e cujas infidelidades Tussy aceitava em silêncio.

Se há algo intrigante é a contradição entre a ativista feminista e a esposa apaixonada e subserviente. É preciso ponderar, no entanto, que sua condição não difere da de outras tantas mulheres daquele século 19 e, infelizmente, do século 21. Entre acertos e erros, Miss Marx faz o elo entre passado e presente em uma sequência vibrante, em que Tussy “solta os demônios” ao som de uma versão da banda punk Downtown Boys para o hino “A Internacional Comunista”.

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