Matrix Resurrections

Aos novatos no universo Matrix: é preciso assistir pelo menos ao Matrix original, de 1999, para entender citações, captar easter eggs e não se perder na complexa teoria do simulacro que sustenta Matrix Resurrections, grande aposta da Warner Bros. para fechar 2021. Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss estão de volta como Thomas Anderson/Neo e Trinity, passados dezoito anos das continuações Matrix Reloaded e Matrix Revolutions – a trilogia está disponível em streaming. O cinema de ficção científica tem um antes e depois da franquia, nascida das mentes visionárias dos Irmãos Wachowski, hoje Lana e Lilly Wachowski. Inteligência artificial, física quântica, realidade virtual e kung fu fundiram-se em uma explosiva mistura de filosofia existencialista e efeitos especiais nunca vistos, como o reverenciado efeito bullet time.

São três as ausências sentidas na quarta parte. Laurence Fishburne e Hugo Weaving aparecem apenas em nostálgicos flashbacks de Morpheus e o Agente Smith. Mas os personagens estão na trama como os avatares vividos por Yahya Abdul-Mateen II (Aquaman) e Jonathan Groff (Hamilton), respectivamente. Desta vez, apenas Lana Wachowski está na direção. A repentina morte dos pais no intervalo de cinco semanas foi seu gatilho emocional para realizar Matrix Resurrections. O luto provocou efeito contrário na irmã, Lilly, que decidiu se afastar do projeto. É um detalhe de bastidor que pode explicar o olhar saudoso e afetuoso da cineasta sobre sua dupla central. Sim, porque em meio à parafernália tecnológica, é a história de amor entre Neo e Trinity que faz o filme valer a pena.

No final de Matrix Revolutions, Trinity morre e Neo se sacrifica para salvar Zion, o único refúgio de humanos livres da Matrix. O roteiro de Resurrections é coassinado por Lana, que faz inspirado uso da metalinguagem ao trazer o programador Thomas como o cultuado criador do game Matrix. O vilão Smith, pasmem, é seu sócio e quem avisa que a Warner Bros. encomendou uma continuação para a saga. Eles não imaginam que são fantoches da Matrix, embora Thomas tenha sonhos estranhos com outra vida e faça terapia. Trinity agora é Tiffany. Continua amante de motos, mas está casada e com dois filhos (interpretados pelos filhos da atriz na vida real). Ela e Thomas se encontram por acaso em um café, e a sensação de familiaridade é imediata. O passado bate à porta quando Thomas é encontrado pela hacker Bugs (Jessica Henwick), que faz Neo despertar, retomar seus poderes e, claro, planejar resgatar Trinity/Tiffany da Matrix.

Novos e velhos personagens se cruzam em uma Matrix de tecnologia ainda mais avançada, onde Lana Wachowski exercita sua criatividade nas cenas de ação e nos efeitos especiais. Nada revolucionário, mas de altíssimo nível. A diretora também se mantém fiel à pegada filosófica ao abordar conceitos que tocam fundo no mundo contemporâneo, como verdade relativa, fim da privacidade e manipulação virtual. No fim das contas, contudo, o que movimenta o confronto entre simulacros e levanta a torcida do público é o romance entre Neo e Trinity – por sinal ambos em ótima forma no alto de seus 50 anos. São eles que banham a eletrificada Matrix de humanidade. São eles que ficam na memória.

Ficha Técnica

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