Judy - Muito Além do Arco-Íris

Oscar, Globo de Ouro, Bafta (Oscar inglês), SAG (Sindicato dos Atores) .... Renée Zellweger conquistou todos os principais prêmios da temporada. Quem assistiu à entrega do Globo de Ouro deve ter notado o tom ressentido no discurso de agradecimento: “Vocês estão ótimos 17 anos depois, obrigada por me ter de volta”. Foi para receber o Globo de Ouro e o Oscar de coadjuvante por Cold Mountain (2003) que Renée havia subido ao palco pela última vez.  

Catapultada para a fama como o par romântico de Tom Cruise em Jerry Maguire - A Grande Virada e depois como estrela da franquia O Diário de Bridget Jones, Renée amargou um longo período de ostracismo, com filmes que passaram despercebidos e intervenções estéticas que deram o que falar. Ela sabe o que é estar por baixo e parece converter as próprias frustrações na matéria-prima da trágica personagem Judy Garland. Baseado na peça End of the Rainbow, de Peter Quilter, Judy - Muito Além do Arco-Íris ilumina o melancólico último ano de vida da artista.

Enquanto assistia à primogênita Liza Minnelli ascender no show business, Judy mergulhava em dívidas e no vício em álcool e barbitúricos. O drama maior, porém, foi perder a guarda dos dois filhos menores para Sidney Luft, o terceiro dos cinco maridos. Ignorada em Hollywood, mas amada pelos ingleses, ela desembarca em Londres no inverno de 1968 para uma série de shows com ingressos esgotados. O objetivo era entrar nos trilhos, se reerguer e recuperar os filhos.

O diretor Rupert Goold (A História Verdadeira) reparte a narrativa em dois períodos: os conturbados bastidores da temporada londrina, que inclui o quinto casamento, e as filmagens do clássico O Mágico de Oz, quando a adolescente de 17 anos se eternizaria ao soltar o vozeirão em “Over the Rainbow”. Essa volta ao passado oferece um retrato caricato e simplista da relação emocionalmente abusiva com o chefão da MGM, Louis B. Mayer, e do uso de drogas prescritas que fazia parte da “dieta” que o estúdio obrigava a starlet a seguir.

Embora acerte no recorte temporal ao focar dois momentos-chave da trajetória da artista, Judy prende-se mais aos fatos do que no íntimo de sua biografada. Quem torna essa jornada envolvente é Renée Zellweger, que despeja os próprios demônios na tela em uma atuação potente, profunda e sofrida. A voz também é dela, que canta sucessos como “For Once in My Life”e “By Myself”, e arremata com uma interpretação muito pessoal de “Over the Rainbow”. O Oscar pode colocar Renée de volta ao circuito. Judy Garland não teve a mesma sorte. Em 22 de junho de 1969, o marido Mickey Deans encontrou-a morta no quarto do hotel em Londres. Aos 47 anos de idade, a estrela sucumbiu a uma overdose acidental.

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