Dovlatov

Um dos escritores russos mais populares do século 20, Serguei Dovlatov tinha 30 anos em 1971. Os ventos do revolucionário 1968 em Paris sopraram fracos em Leningrado, onde o intelectual aspirante a escritor não achava meios de ser publicado. Era preciso ser membro da União dos Escritores e para entrar na panela ele teria de abdicar dos temas que lhe interessavam para seguir o código moral e político da ditadura soviética.

Esse belíssimo trabalho do cineasta Alexei German Jr. venceu o Urso de Prata de melhor contribuição artística no Festival de Berlim 2018. Dovlatov mergulha com leveza, e humor irônico, em um dos períodos negros da censura soviética. Mas é, acima de tudo, uma ode à escrita como alimento da alma, uma necessidade física no caso do jovem Serguei. A trama promove um passeio por uma Leningrado de tons opacos ao seguir os passos do protagonista durante seis dias.

O ator sérvio Milan Maric usa seu atraente corpanzil, acoplado a um sorriso maroto, como passaporte para circular por saraus literários, editoras e clubes de jazz. Nessas andanças, das quais vira e mexe participa sua filha pequena, ele convive com outros “não publicados” como o poeta Joseph Brodsky, que pouco depois seria forçado a se exilar nos Estados Unidos, e em 1987 ganharia o Nobel de Literatura.

Dovlatov também acabou por migrar para Nova York, onde finalmente foi publicado, mas não viveu o suficiente para degustar da popularidade de que seus livros gozaram na Rússia pós-abertura. Obras como O Ofício e O Compromisso (disponíveis no Brasil pela Amazon) são exemplos da escrita concisa e bem-humorada, e nas quais o autor narra suas peripécias literárias na mesma década de 70 retratada no filme.

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