Conduzindo Madeleine

Duas pessoas em um táxi, a passageira e o motorista. Simples assim. Mas que viagem... Conduzindo Madeleine é uma delicadeza do cinema francês, uma obra sobre finitude, memória, luto, violência, família e superação. O humor refinado e as ruas de Paris como cenário são alguns dos atrativos bem aproveitados pelo diretor Christian Carion, que coloca a bordo do táxi os carismáticos Line Renaud e Dany Boon.

Uma beleza reluzente aos 92 anos, Line é Madeleine, a senhora que se despede da própria casa para ir morar em uma instituição de repouso. Boon, que viveu seu filho na comédia A Riviera Não é Aqui, é o invocado, desanimado e endividado Charles. Ele não gosta nada quando a elegante passageira pergunta se pode fazer algumas paradas pelo caminho. Madeleine quer revisitar lugares de seu passado. A cada parada, ela narra ao taxista um episódio marcante. O setembro de 1944 está vívido em sua memória. Foi quando deu o primeiro beijo e se apaixonou por Matt, o soldado norte-americano em solo francês durante a Segunda Guerra.

Alice Isaaz (O Mistério de Henri Pick) faz a versão jovem de Madeleine. Os flashbacks jogam luz sobre os percalços que enfrentou por se defender de um homem abusivo. Mais de cinco décadas separam-na do presente, tempos da Lei Maria da Penha e do #metoo, em que a mulher conquistou algum amparo. Seus dramas não só comovem Charles, como o confrontam com a face tóxica da própria masculinidade. Mais do que isso, ele começa a dar outra dimensão para seus problemas financeiros e familiares.

Conduzindo Madeleine é uma história de afeto, de fazer as pazes com o passado e com o presente. Não há grandes arroubos emocionais e nem reviravoltas. Não dá para dizer que o desfecho surpreende. Corre tudo dentro dos conformes. O que encanta é a troca entre gerações e o aprendizado fruto desse dia tão especial. Para o espectador, fica a ternura no coração e a sensação de bem-estar. Uma obra singela e rápida (90 min), mas de efeito duradouro.

Ficha Técnica

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