Cafarnaum

É da atriz, roteirista e diretora Nadine Labaki o episódio O Milagre, o mais emocionante do mosaico cinematográfico Rio, Eu Te Amo (2014), sobre um garotinho de rua que diz esperar uma ligação de Jesus. Nadine parece ter uma varinha mágica no tato com seus atores mirins, porque haja coração para terminar Cafarnaum sem estar com nosso bombeador de sangue em pedacinhos. Vencedor do Prêmio do Júri em Cannes, concorreu ao Oscar de filme estrangeiro pelo Líbano.

O pequeno Zain surge na prisão condenado por um crime. Como chegou ali é a jornada que Nadine conta pelos olhos do menino. Refugiado sírio, Zain vive na favela de Beirute em situação de extrema pobreza, no meio de uma penca de irmãos e sob o descuido e brutalidade dos pais. Revoltado por ver a irmã de 11 anos obrigada a se casar, ele foge de casa e acaba abrigado por Rahil (Yordanos Shiferaw), uma refugiada etíope, mãe do bebê Yonas.

Zain Al Raffea, o intérprete do protagonista, é ele próprio refugiado. Deve ter visto muita coisa nessa vida, porque seu personagem tem a alma de um adulto sofrido no corpo de uma criança raquítica. É um poço de coragem e suas lágrimas nos levam a lugares emocionais raros de se chegar pelas mãos de um ator mirim. E não é só ele, porque o mini Yonas impressiona com reações autênticas. A diretora Nadine pode até forçar a barra na tentativa de comover, mas realiza uma façanha com seu elenco infantil.

Curiosidade: o título, Cafarnaum, remete à chamada Cidade de Jesus, situada às margens do mar da Galileia, onde Cristo teria fundado a base de seu ministério. No mundo de Zain, porém, parece não haver espaço para a palavra de Deus ou seus milagres.

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