Aspirantes

A estreia na direção do editor de som Ives Rosenfeld demorou quatro anos para chegar aos cinemas, apesar de conquistar importantes premiações. No Festival do Rio de 2015, por exemplo, abocanhou três troféus Redentor – direção, ator e atriz coadjuvante –, além de ser eleito o melhor filme da 40ª Mostra de Cinema de São Paulo pela ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Antes tarde do que nunca.

Aspirantes merece a tela grande dos nossos cinemas. No microcosmo habitado por Júnior (Ariclenes Barroso, Benzinho) e Bento (Sérgio Malheiros, Cinderela Pop), dois melhores amigos, jogadores do time amador Bacaxá, da pequena Saquarema no interior do Rio de Janeiro, caberia milhares e milhares de jovens brasileiros atolados na mesma pobreza e imbuídos do mesmo sonho: se tornar profissional de futebol para conquistar uma vida melhor.

Para Bento, o craque do time já na mira de olheiros, o futuro parece sorrir. Mas para Júnior, o sonho começa a ficar cada vez mais distante. Vivendo de favor na casa de um tio alcoólatra, trabalhando à noite para sustentar os treinos diários no Bacaxá, ele ainda descobre que a namorada (Julia Bernat) está grávida. Apesar da solidariedade sincera de Bento, Júnior não aceita ajuda e se esconde atrás de um ‘tudo bem’ de cortar o coração. A inveja do amigo e a revolta pela situação começam a se transformar em raiva, desespero e brigas, com consequências trágicas.

Consciente do inegável potencial dramático de seu elenco, com destaque para o jovem Ariclenes Barroso, Rosenfeld faz da jornada de Júnior um filme contido, corajoso, belo. Já na primeira sequência, o diretor indica que Aspirantes não olha para fora, para o mundo do futebol e suas ilusões, embora ele esteja sempre por ali, onipresente. Antes, ainda bem, dirige sua câmera compassiva com elaborados planos e enquadramentos para a vida de ausências, faltas e restrições de Júnior, sobretudo, mas também de Bento, da namorada grávida adolescente, da mãe dela que também foi grávida adolescente, dessa gente humilde que derrama afeto genuíno na tela. E que merecia mais, muito mais da vida.

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